Emerson Leal (*) –
A China é um país de 1,4 bilhão de habitantes. Nos últimos dias notícias promissoras têm vindo de lá. Por exemplo, sobre a “pobreza absoluta”, na qual viviam 80 milhões de pessoas (cerca de 5,5% da população) em 2013. O país tinha estabelecido uma meta de eliminá-la até o final de 2020 e conseguiram cumpri-la no final do mês de novembro passado. Vamos lembrar que o Brasil (com uma população 7 vezes menor) tem hoje 14 milhões de brasileiros miseráveis e famintos (cerca de 6,5%) e mais de 50 milhões de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. E os EUA, com uma população de 330 milhões de habitantes, têm 53 milhões de norte-americanos vivendo abaixo da linha da pobreza. A diferença é que no Brasil e nos EUA esses números têm aumentado e, na China, diminuído.
Segundo estimativas de peritos internacionais, o setor industrial dos EUA é metade do da China; no setor agrícola, a China já os ultrapassou. Uma competição acirrada entre os dois países ocorre também na área de P&D. As tecnologias emergentes, como inteligência artificial, robôs e big-data são alvos de uma disputa cada vez maior entre ambos. A tendência, hoje, é que nos próximos anos a China ultrapassará o PIB dos EUA. Numa área estratégica como a da tecnologia 5G, o Tio Sam não possui ainda uma empresa com liderança global para nadar de braçada. Trocando em miúdos, os EUA estão atrasados nesse quesito, tendo dificuldades em competir com a China no fornecimento global dessa tecnologia.
Apelando para a lógica do capitalismo gângster, os Estados Unidos proibiram a empresa Huawei chinesa de fornecer equipamentos de rede de telecomunicações com tecnologia 5G para empresas prestadoras de serviços desse tipo em território americano. Como se não bastasse, a Huawei foi ainda alvo de espionagem efetuada pela National Security Agency. Partindo para uma ofensiva digna de larápios pegos de calça curta, neste mês de dezembro de 2020 o diretor de inteligência dos EUA, John Ratcliffe, denunciou em artigo publicado no Wall Street Journal um suposto “roubo por parte da China de segredos comerciais e tecnologia de defesa dos EUA”, sem qualquer prova (ora, a China está na frente e o mais provável é que seja o inverso). Como se não bastasse, acusou ainda a China de representar hoje em dia “a maior ameaça aos Estados Unidos e a maior ameaça à democracia e à liberdade no mundo desde a Segunda Guerra Mundial". Haja hipocrisia!
Após esse jogo sujo de tentar ‘apagar’ os resquícios da Guerra Fria jogando gasolina na fogueira, Pequim deu o troco: Hua Chunying, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, rejeitou as acusações e chamou tudo de “mentiras e boatos espalhados pelos EUA com o objetivo único de desacreditar a China”. E completou: “Esperamos que os funcionários dos Estados Unidos finalmente respeitem os fatos e parem de inventar e difundir seu vírus político e suas mentiras”!
Na sua Guerra Fria – suja! – contra a China, os EUA têm apelado frequentemente para as Lawfare’s, o conhecido mecanismo de usar e manipular a lei como “arma de guerra” para detonar adversários políticos. Os exemplos são inúmeros. Conclusão: só o desespero pode explicar tamanha agressão aos fatos e tanta insolência do Tio Sam.
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(*) Emerson Leal, Doutor em Física Atômica e Molecular pela USP de S. Carlos.