Brasília - Foi uma grande confraternização o I Seminário LGBTI+ da Câmara Legislativa do DF – “Memória, Verdade e Justiça” realizado nos dias 24 e 25 junho. O evento foi promovido pelo gabinete do deputado Fábio Félix (PSol), presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro Parlamentar, e serviu também para celebrar os “50 anos da Rebelião de Stonewall”, uma série de manifestações de membros da comunidade LGBT contra uma invasão da polícia de Nova Iorque ao bar Stonewall.
Com o auditório da Câmara largamente ocupado, o deputado Fábio Felix deu as boas vindas aos participantes e lembrou que o momento exigia a luta de todos contra os desmandos e os absurdos da atual política nacional, que vê os LGBT como inimigos.
Outros deputados compareceram como Arlete Sampaio (PT), que lembrou que “Fábio Félix é o primeiro deputado declaradamente homossexual da casa” e que tem realizado um trabalho visceral e importante. O deputado Chico Vigilante (PT), por sua vez, subiu ao palco do auditório para garantir o seu apoio e parceria em qualquer momento da luta.
Da Câmara dos Deputados vieram a deputada federal Érika Kokay (PT) que usou o seu tempo de fala para afirmar que ninguém obrigará os homossexuais a novamente se esconderem e, emocionada, citou um trecho do samba Liberdade, Liberdade! para exigir tempos melhores: “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”.
Finalmente, quem pediu a palavra foi o deputado David Miranda (PSol-RJ). Atarefado, e com pressa para voltar para o Congresso Nacional, falou da luta travada por ele seu marido, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, criador do site The Intercept que tem divulgado as mensagens secretas da Lava Jato.
Aplaudido pela plateia, David avisou que foi um casal homoafetivo que começou o processo de denúncia das ilegalidades no julgamento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Para ele, a Parada do Orgulho Gay, realizada domingo em São Paulo, com mais de três milhões de pessoas na avenida, mostrou para todos que os homossexuais podem - e vão - alterar a história brasileira, porque é “com amor que faremos as mudanças”. Antes de sair, disse que Glenn Greenwald estava para chegar a Brasília e que ele tinha que ir esperá-lo. “Afinal, ele é meu marido”, disse sorrindo de felicidade.
Mas teve também que ir ao Congresso Nacional onde as celebrações do meio século de Stonewall estavam sendo boicotadas. As luzes do arco-íris (símbolo da luta gay) preparadas para serem projetadas na noite dessa segunda-feira haviam sido desligadas e era preciso arregaçar as mangas para dar luz ao mistério do apagão.
A seguir, a programação completa dos dois dias de seminário e os nomes de todas as pessoas que prestigiaram os eventos, tanto na CLDF quanto no Congresso Nacional:
Programação do Seminário LGBT+ CLDF
Memória Verdade e Justiça: 50 anos de luta LGBT
Dia: 24 de junho
Mesa de abertura
Dep. Distrital Fábio Félix
Dep. Distrital Arlete Sampaio
Dep. Distrital Chico Vigilante
Dep. Federal Erika Kokay
Dra. Deborah Duprat (Procuradora Geral da República)
Dr. Juvenal Araújo (Subsecretário de Direitos Humanos da Sejus/DF)
Dra. Angela Maria (Delegada DECRIN)
I Painel – Resistência LGBTI+ no DF: Cidade de todas as cores.
Mediação:
Dani Brígida (Articulação Brasileira de Lésbicas)
Participantes:
Ludmylla Santiago (ANTRA)
Alexandre Ribondi (Ator e diretor)
Leonardo Luiz (Ativista da Rede Trans do DF)
Talita Victor (Secretária do Setorial LGBT do PSol-DF)
II Painel:
Mediação:
Bruno Zaidan (Coletivo Juntos!)
Participantes:
Janaina Oliveira, (Secretária Nacional LGBT PT)
Erica Malunguinho (Deputada Estadual SP)
Felipe Areda (Instituto LGBT)
Valdenizia Peixoto (Coordenadora do Departamento de Serviço Social da UnB e do Núcleo de Diversidade Sexual e Gênero)
Ruth Venceremos (Diretoria do Coletivo Distrito Drag)
Homenagens:
Alessandra Jugnet: Mãe pela diversidade, maquiadora, mãe da menina trans Victoria Jugnet (2001-2019).
Alexandre Ribondi: ativista gay, fundador do Grupo Homossexual Beijo Livre, o primeiro grupo de ativismo LGBT de Brasília. Foi colaborador do Jornal “O Lampião da Esquina”, uma das primeiras mídias voltadas à população LGBT do Brasil.
Allice Bombom: drag queen conhecidíssima na cidade por vender seus deliciosos bombons em formatos sugestivos.
Mônica Benício: militante de direitos humanos, viúva da vereadora do Rio de Janeiro executada em 14/03/18, Marielle Franco (PSOL).
Mães Pela Diversidade: grupo nacional de familiares de pessoas LGBTI que militam pelos direitos e dignidade dessas pessoas.
Marina Garlen (in memorian: baiana, mulher trans, ativista pelos direitos da população trans e travesti. Faleceu em 2016, em São Paulo, enquanto participava das atividades da semana da visualidade trans naquela cidade. Foi homenageada com um jardim de Ipês no Parque da Cidade, que leva seu nome e recebe novas mudas anualmente, nos dias próximos ao 29/01 (Dia Nacional da Visibilidade Trans).
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Programação do Seminário LGBT+ do Congresso Nacional
Memória, Verdade e Justiça - 50 Anos de luta LGBTI+
Local: Auditório Nereu Ramos da Câmara dos Deputados
Dia: 25 de junho
Programação
Cerimônia de Abertura
Presidentes das Comissões de Cultura; Defesa dos Direitos da Mulher; Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa; Direitos Humanos e Minorias; Educação; Legislação Participativa; Seguridade Social e Família; Trabalho, Administração e Serviço Público.
1ª Rodada
Memória: De onde viemos? Resgate histórico do contexto do Levante de Stonewall, nos Estados Unidos; resistência à ditadura civil-militar; constituição e organização dos coletivos precursores do movimento LGBT no Brasil e em outras partes do mundo.
Jane Di Castro – Cantora e artista performática brasileira, começou se apresentando em casas noturnas do bairro de Copacabana/RJ e, em 1966, estreou no Teatro Dulcina. Foi dirigida por Bibi Ferreira no espetáculo Gay Fantasy no qual também atuaram Rogéria, Marlene Casanova e outras e Ney Latorraca. Em 2004 estrelou no Teatro Rival o espetáculo Divinas Divas que manteve-se em cartaz por 10 anos. Depois de 47 anos vivendo com Otávio Bonfim, formalizou a união em 2014, num casamento coletivo que reuniu 160 casais LGBT.
Wellington Andrade – Em 1970 foi secretário da comunidade católica de Homossexuais em Aracaju, em 1980 criou o Dialogay um dos grupos mais atuantes, participou da fundação de dois jornais gays: Journal Gay Internacional e o Jornal Lampião da Esquina. Em 2004, fundou o Grupo ADAMOR, motivado pelo assassinato de um gay. Atualmente é presidente de honra do Adamor Cores da Vida e tem contribuído para ampliar a luta e a defesa dos direitos da comunidade LGBTQI na Bahia e no Brasil.
Heliana Hemetério – historiadora, iniciou sua militância em 1984, atua no Movimento de Mulheres Negras, participou da coordenação do I Seminário de Lésbicas em 1996 no Rio de Janeiro e da coordenação do I e II Seminário de Lésbicas Negras e atual vice presidenta lésbica da Abglt e Articuladora do Candaces, Rede Nacional de Lésbicas Negras.
Amika Tendaji - representante do Black Lives Matter (EUA), reconhecida defensora de direitos humanos, representando o coletivo Black Lives Matter (BLM), dos Estados Unidos. O BLM tem pautado sua atuação na denúncia das agressões e violências sofridas pela população negra norte-americana e na defesa de seus direitos civis. O nome – “Vidas Negras Importam” – reflete a linha de ação do grupo. Além de defensora de direitos humanos, Amika Tendaji é poeta, fotógrafa, LGBTI+ e coordenadora regional do BLM de Chicago.
Cláudio Nascimento (mediador) – filósofo, é ativista LGBTI há 30 anos, atualmente é coordenador executivo do Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBTI, é diretor de políticas públicas da Aliança Nacional LGBTI e coordenador no Brasil da Rede Gaylatino. É fundador e coordenador da Parada do Orgulho LGBTI-Rio. Foi idealizador e coordenou, por 9 anos, do Programa Estadual Rio Sem Homofobia (2007 a 2016). Coordenou a articulação e elaboração do Programa Federal Rio Sem Homofobia (2004). É cidadão honorário dos municípios do Rio de Janeiro (2002), Maceió (2013) e Quatis (2014). Também recebeu pela Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro a Medalha Tiradentes (2002) e da Câmara Municipal do Rio de Janeiro a Medalha Pedro Ernesto (2015). É comendador da UERJ com a Medalha José Bonifácio, na categoria Grão Oficial (2013). É co-autor do Livro "Quando ousamos existir: itinerários foto biográficos do Movimento LGBTI Brasileiro -1978-2018" (2018).
2ª Rodada
Verdade: Onde estamos? Análise de conjuntura sobre atualidade das questões que envolvem o espectro das orientações sexuais e identidades de gênero no plano da sociedade e das relações com o Estado; mudanças institucionais em curso nos últimos anos e, em especial, com a posse do novo Presidente da República.
Marcelly Malta – Presidente da ONG Igualdade RS – Associação de Travestis e Transexuais do Estado do Rio Grande do Sul, Vice-presidente da Rede Trans Brasil e militante histórica do movimento de pessoas trans no Brasil.
Beto de Jesus – É Country Program Manager da Aids Healthcare Foundation (AHF Brasil). Educador de formação, consultor em Diversidade Sexual e Gênero para organismos nacionais e internacionais, públicos e privados, com diversas publicações sobre o tema. Membro-fundador da Parada do Orgulho LGBTI+ de São Paulo e Diretor para o Brasil da ILGA (International Lesbian, Gay, Bisexual, Trans and Intersex People Association).
Erika Hilton – é transvestigenere, negra, estudante de Gerontologia na Universidade Federal de São Carlos, no interior paulista e co-Deputada Estadual pela Bancada Ativista. É uma das 3 mulheres trans eleitas em 2018 pelo PSOL. Erika luta pelo direito a vida, dignidade e direitos sociais e humanos para todas as que são marginalizadas e excluídas pelo CIStema.
Robeyoncé Lima – Nascida e criada na comunidade do Alto Santa Terezinha, Zona Norte do Recife, é bacharela em direito pela UFPE, e atualmente é técnica administrativa pela mesma universidade. Como primeira advogada trans do Estado de Pernambuco, se tornou militante nas pautas LGBT, negra e feminista. Membra da Comissão de Diversidade Sexual e de Gênero da OAB-PE e co-deputada estadual pela MandatA coletiva das JUNTAS. É também dançarina amadora.
Fernanda Costa Lima - é graduada em Gestão de Marketing, foi dirigente da União de Negros Pela Igualdade de Pernambuco, militante a 16 anos dos movimentos sociais, integrou a direção do Bloco da Diversidade de Pernambuco de 2008 a 2012, atualmente é Gestora do Centro da Mulher Metropolitana Júlia Santiago pela Secretaria da Mulher do Recife e Vice Presidenta Nacional da UNALGBT.
Helena Vieira (mediadora) – pesquisadora, transfeminista e escritora. Estudou Gestão de Políticas Públicas na Universidade de São Paulo. Foi colunista da Revista Fórum e contribuiu com diversos meios de comunicação, como o Huffpost Brasil, Revista Galileu (especial sobre transexualidades) e Cadernos Globo (Corpo: artigo indefinido), participando das discussões sobre a novela Força do Querer.
3ª Rodada
Justiça: Para onde vamos? Perspectivas de avanço na conquista de direitos; extremismos e resistência no Brasil e no mundo; o papel dos novos movimentos sociais, com destaque para a cultura, mulheres, negritudes e juventudes.
Erica Malunguinho – educadora, artista plástica, agitadora cultural e política brasileira. Em 2018, elegeu-se deputada estadual, sendo a primeira mulher transexual da Assembleia Legislativa de São Paulo. Conhecida por ter parido, na região central da cidade de São Paulo, um quilombo urbano de nome Aparelha Luzia, território de circulação de artes, culturas e políticas pretas, visível também como instalação estético-política, zona de afetividade e bioma das inteligências negras.
Gustavo Bernardes – ex-Presidente do Conselho Nacional LGBT e coordenador de promoção dos direitos de LGBT da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República.
Danieli Balbi – Professora da Rede Pública Federal de Ensino - Fiocruz. Doutoranda em Ciência da Literatura pela UFRJ. Assessora Parlamentar da Comissão de Defesa e Promoção dos Direitos das Mulheres da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Diretora da UNALGBT.
Rivânia Rodrigues – Lésbica, negra, feminista, formada em Gestão pública, integra a rede CANDACES. Coordenou o Semanário nacional de Lésbicas e da construção do primeiro seminário de lésbicas negras. Foi a primeira mulher no Estado a assumir um organismo da Política LGBT EM 2009 no município de Recife na GLOS em 2012.
Rafa Carmo Ramos – Artista Visual. Atualmente é coordenador da Rede Paraense de Pessoas Trans, Conselheiro Estadual da Diversidade Sexual do Pará pelo segmento de Transexuais e Coordenador de Raça e Etnia da Rede Trans Brasil.
Dione do Carmo Araújo Freitas - terapeuta Ocupacional formada pela FMRP-USP, pós-graduada em Reabilitação e Atenção a Saúde Hospitalar de Adultos e Idosos pela Residência multiprofissional da FMUSP, recentemente conclui meu mestrado em Desenvolvimento Territorial Sustentável pela UFPR estudando as políticas públicas para pessoas trans, principalmente as que permitem o livre desempenho da identidade de gênero.
Para encerrar, houve uma apresentação artística de Ikarokadoshi - jornalista, apresentador de TV no programa “Drag me as a Queen” no Canal E! Premiado como o melhor reality show de 2018, no Rio 2C. Foi eleito em 2010 pela G Magazine como um dos cinco melhores artistas. Foi homenageado pelo artista plástico Rafael Suriani com grafites da Imagens do Ikaro pelo centro da cidade de São Paulo, na Tag Gallery e em Paris. Fez parte do musical “Chicago”, no qual interpretou Velma Kelly e do clássico “Rocky Horror Picture Show”, no qual interpretou o Dr. Frank n’ Furter. Foi eleito pela Billboard como uma das 34 drags mais conhecidas no mundo. Foi leito pela Revista Americana Out uma das 60 melhores drag queens do Mundo.
Além disso, houve um “Beijaço” em frente ao Congresso Nacional.