"A vida é de quem se atreve a viver".


A Cultura do DF fica nas mãos de quem?

Romário Schettino - 

Quem é o ilustre desconhecido dos artistas e produtores culturais de Brasília que vai assumir a Secretaria de Cultura do DF? O sociólogo Adão Cândido, além de filiado ao PPS, nunca realizou nenhum trabalho cultural na cidade, a não ser ter sido candidato a vice-governador na chapa de Luiz Pitimam (PSDB) em 2014.

Derrotado nas urnas, Adão chegou ao Ministério da Cultura de Michel Temer pelas mãos de Roberto Freire, presidente nacional do PPS, para assumir o cargo de secretário de Articulação de Desenvolvimento Institucional.

Nomeado em dezembro de 2016, Adão trabalha na coordenação de colegiados e na formulação de políticas públicas da cultura do país e organiza a agenda de encontros nacionais e internacionais da pasta. O primeiro trabalho internacional dele foi ir à Colômbia para homenagens ao clube Chapecoense. Adão recebe muitas críticas de seus colegas e ex-colegas e trabalho. Ele é tido como alguém que persegue os funcionários e "não faz nada, um burocrata".

Adão Cândido nasceu em Porto Alegre em 1971. Em sua página no Facebook declarou-se eleitor de Gerado Alckmin, fez elogios rasgados a Luciano Huck e muitas críticas ao PT e à Venezuela.

Ao ser anunciado pelo governador eleito do DF, Ibaneis Rocha (MDB), Adão Cândido disse: "Como pontuou o governador, em 2020 nós teremos os 60 anos da cidade, e o desafio é entregar de volta o Museu de Artes, que está uma carcaça, uma obra que não anda, e o Teatro Nacional, que foi interditado já faz sete anos, e a gente tem dificuldade muito grande de achar um projeto que se viabilize".

Para demonstrar certo conhecimento de causa, Adão lembrou que "quando o projeto [de reforma do Teatro Nacional] foi feito custava R$ 200 milhões em obras e R$ 50 milhões em equipamentos. Só o projeto custou R$ 6 milhões. Era um momento do país em que tinha essas grandes obras, o Estádio Mané Garrincha, etc. Isso não existe mais. Temos que encontrar uma solução para o problema, que permanece, mas com outros parâmetros".

O espírito privatista já foi logo demonstrado. Adão disse que apesar de já existir um projeto de parceria via Lei Rouanet, "nada impede que a gente tome outros caminhos, inclusive, passando a gestão do teatro para uma organização social ou, mesmo, para uma empresa".

O novo secretário falou à imprensa também sobre o Carnaval de 2019. "Vamos assumir a um, dois meses do evento. Mas para 2020, nós vamos tentar alinhar uma relação melhor [com as escolas de samba], inclusive tentando esses recursos do FAC para fazer uma alavancagem das festas populares, inclusive, do carnaval".

O deputado distrital Cláudio Abrantes (PDT) acompanhou a indicação de Adão Cândido e, como parlamentar ligado à área, se dispôs a acatar o nome que se viabilizasse perante a comunidade artística da cidade. O que se sabe é que pessoas ligadas ao cinema, teatro e música fecharam com o nome de Adão. Muitos desses apoiadores pretendiam cargos no novo governo, por isso a rápida adesão ao nome do indicado. No entanto, outros artistas consultados por este site disseram que não foram ouvidos e se dizem surpresos com essa indicação.

"Na verdade, pouco importa qual seja o nome. O que certos artistas e produtores culturais de Brasília querem é que a distribuição das verbas seja garantida", disse uma fonte.

É possível que haja conflitos em relação à utilização do Fundo de Apoio à Cultura (FAC) para eventos como o Carnaval. O Fórum de Cultura do DF, que durante o governo Agnelo Queiroz, travou luta renhida contra o uso dos recursos do FAC para outros fins que não fossem para as artes, está se reunindo para discutir como deve se comportar diante da nova conjuntura política cultural da cidade.

Tudo ainda é uma grande incógnita. Só a partir de janeiro é que a prática e a nomeação dos assessores vão revelar a que veio o novo secretário, o seu adjunto e sua equipe.

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