A tragédia foi transmitida ontem (2/9) ao vivo pela TV. O incêndio destruiu o Museu Nacional do Rio de Janeiro e levou junto, além do prédio histórico que foi residência da família imperial, um acervo de 20 milhões de itens e trabalhos científicos importantes. O Museu era o maior da América Latina e um dos cinco maiores do mundo.
Autoridades que sonegaram recursos em nome do ajuste fiscal estão lamentando a perda inestimável de parte da história do povo brasileiro. Nas redes sociais, pesquisadores, alunos e professores brasileiros compartilham seus depoimentos, lamentando o ocorrido e creditando a tragédia ao corte de custos vivido nos últimos anos.
O Ministro da Cultura, Rodrigo Sá Leitão, teve a coragem de dizer à imprensa que o ocorrido é parte do "processo de negligência de anos anteriores", como se isso o isentasse da responsabilidade, sua e do governo para o qual trabalha.
O Museu Nacional, localizado na Quinta da Boa Vista, zona norte do Rio de Janeiro, foi criado por D. João VI e completou 200 anos em 2018. O edifício é tombado pelo patrimônio histórico e foi residência da família Real e Imperial brasileira. Sua estrutura é de madeira, o que permite que as chamas se espalhem com mais facilidade. O prédio também sofria com a falta de manutenção.
Em fevereiro deste ano, Alexander Kellner, diretor do museu, reclamou da falta de verba para a manutenção, "mas esses recursos alocados por meio de emendas parlamentares nunca chegaram, eram sistematicamente contingenciadas".
"Não vai sobrar absolutamente nada do Museu Nacional", afirmou aos jornalistas o vice-diretor da instituição, Luiz Fernando Dias Duarte. "Os 200 anos de história do país foram queimados", disse. Na porta do local, professores, alunos e pesquisadores choram enquanto presenciam a destruição.
Entre os destaques do acervo estão a coleção egípcia, que começou a ser adquirida pelo imperador Dom Pedro I; o mais antigo fóssil humano já encontrado no país, batizado de "Luzia", com cerca de 11.000 anos, o mais antigo das Américas; um diário da Imperatriz Leopoldina; um trono do Reino de Daomé, dado ao Príncipe Regente D. João VI, em 1811; o maior e mais importante acervo indígena e uma das bibliotecas de antropologia mais ricas do país.
Essa não é a primeira vez que o fogo destrói acervos importantes da memória e da cultura. O Museu de Arte Moderna (MAM) queimou, o acervo de Hélio Oiticica desapareceu nas chamas, a Cinemateca Brasileira pegou fogo e o Museu da Língua Portuguesa virou cinzas. A política do Estado mínimo está destruindo o Brasil, associada à criminosa privatização desenfreada e ao ódio às manifestações artísticas.
A Secretaria Nacional de Cultura do PT distribuiu nota de pesar e indignação. O partido atribuiu a Michel Temer a responsabilidade pelo agravamento da situação orçamentaria do Museu após a aprovação da Emenda Constitucional 55, que congelou por 20 anos os gastos do governo.
A nota do PT afirma que o congelamento dos gastos tornou ainda mais precários os “serviços públicos, especialmente em relação à ciência e à cultura”.