Angélica Torres -
Chegar de noite na Casa dos 4 pensando macambúzio no desacerto que anda o mundo porque o amor não está no ar, porque não é ao amor o poema da hora, e dar de cara com um espetáculo de teatro relicário, uma ode em gratidão a todos os amores, só pode ser bênção de santo e de mãe de santo juntos.
Alexandre Ribondi, no auge do lirismo em seu palco irreverente, inteligente, provocativo, vive A Mimosa, personagem enternecedora que conjuga poesia e humor, em diálogo com um repertório de clássicos, standards e novos, rendilhados pela excelência do pianista e compositor português João Lucas.
Tudo nesse novo espetáculo a 4 mãos e dois corpos transpira teatro autêntico, de lastro na arte e de resistência, de sobrevivência.
Performances, figurinos, cenário, luz, delicadamente plásticos; o pianista com andamento/ timing/pausas sensivelmente afinados com o texto; Mimosa compartilhando suas histórias de amor e concluindo que todos os seus homens foram bons, ao som de Debussy (Clair de Lune), magistralmente interpretado.
Desde a sala de bolso no subsolo aos detalhes da antessala e recepção, a Casa dos 4, atipicamente plantada num reduto de oficinas de automóveis em plena 708 Norte, é um oásis cultural que o Plano Piloto de Brasília ganhou do dramaturgo, ator, diretor, professor de teatro e jornalista Alexandre Ribondi.
Espirituoso, carismático, solar, com suas produções baratas de inúmeras peças escritas em mais de 40 anos e as inúmeras e versáteis faces, expressões, interpretações de personagens, Ribondi evoca um misto de Zé Celso e Woody Allen da cena brasiliense.
Quem tem juízo e bom gosto, corra, se não quer perder a chance de ver essa prazerosa montagem. Hoje é o dia da última apresentação desta temporada.
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Serviço:
A MIMOSA – Na Casa dos 4 (708N, F, loja 42, Rua das Oficinas, telefones: 98425-6885 e 3263-2167). Hoje, 20 de maio, às 20h. Ingressos a R$ 20 meia e R$ 40 inteira.