"A vida é de quem se atreve a viver".


A diretora Maria Maia durante a exibição de seu novo documentário no Cine Cultura do Liberty Mall
Novo documentário de Maria Maia traz Lula nas Caravanas de 1993

Angélica Torres -

3 refeições”, o novo documentário da cineasta e poeta Maria Maia, é um registro das Caravanas da Cidadania de Lula pelo Nordeste, em 1993, quando, então, ao se lançar candidato à campanha presidencial, ele refez, de 19 de abril a 11 de maio, o trajeto da viagem de mudança de Garanhuns (PE) para São Paulo, com a mãe e os irmãos ainda crianças.

O filme se desdobra numa 2ª parte, documentando sua chegada ao poder, em 2002, quando seu governo dá início aos programas fundamentais de combate à fome e ao total abandono da população mais pobre do país – temas centrais de seu discurso, desde que despontou como forte liderança no cenário político dos anos 1970.

3 Refeições” foi apresentado a um público de convidados no Cine Cultura Liberty, em Brasília, em data comemorativa historicamente certa e em momento atual mais que oportuno: 10 de maio – dia em que o STF mais uma vez negava a liberdade a Lula preso em Curitiba e mesmo dia, também, em que a grande mídia veiculava a notícia dos assassinatos de 104 combatentes da ditadura militar, ordenados pelos generais Ernesto Geisel e João Figueiredo, em 1974.

Ainda no dia anterior, 9 de maio, o Cine Brasília havia estreado o premiado filme de Maria Augusta Ramos, “O Processo”, sobre o golpe que depôs Dilma Rousseff, em 2016.

Maria Maia teve, portanto, sensibilidade e sorte com a escolha do dia da pré-estreia de seu heroico trabalho; heroico porque realizado com orçamento modesto e dificuldades técnicas, no entanto, historicamente rico a análises, percepções, sensações. Foi impossível para qualquer espectador deixar o cinema sem algum profundo incômodo sentimento em relação a tudo o que se testemunha e vive no país dos últimos 50 anos para cá, sobretudo em relação a Lula.

Sua personagem – jovem e séria, franca e forte, carismática e bonita – é o que salta aos olhos de mais intenso no longo documentário, falando ao e com o povo pobre, faminto, e desde então já apaixonado por ele, das 54 cidades visitadas pelas Caravanas. Não menos tocante, entretanto, é constatar em seu discurso de posse da Presidência, nove anos depois, a coerência do compromisso político assumido com o povo, bem como o efeito da mudança que operou no Brasil com os programas realizados, sobretudo os dois enfocados pela cineasta, o Fome Zero e o Minha Casa Minha Vida.

Maria Maia evidencia ainda a importância que teve Antônio Conselheiro no imaginário de Lula, tramando com pertinência os dois emblemáticos líderes nordestinos, no enredo. Num dos comícios feito ao público de Nova Canudos, primeira cidade visitada pelas Caravanas, ele diz: “Eu fico lembrando um livro que li sobre Antonio Conselheiro e me perguntando, qual o crime que ele cometeu pra sofrer a perseguição que sofreu? O crime, o grande crime de Antonio Conselheiro foi tentar criar uma sociedade mais justa que aquela que existia na época”.

O cineasta Luiz Carlos Barreto, um dos depoentes do documentário, declarou: “Lula é um profeta social”. Zuenir Ventura, que também integrou as Caravanas, então, como jornalista do JB, se disse emocionado com o privilégio de poder participar da viagem e trilhar os caminhos daquela região de enorme importância histórica e cultural para o Brasil, onde Glauber Rocha, inclusive, filmou seu célebre segundo longa-metragem, “Deus e o Diabo na Terra do Sol”.

O cineasta Vladimir Carvalho (foto acima), presente na noite de estreia do novo documentário de Maria Maia, ao elogiar o trabalho da cineasta, disse: "Essa é a Glauber Rocha de saia". A diretora gostou da comparação: "Licença poética que me fez subir aos céus sem precisar morrer".

Diretora de inúmeros documentários, entre eles, os excelentes “Lévi-Strauss: Saudades do Brasil” e “Drummond, Poeta do Vasto Mundo”, Maria Maia disse ainda que o sucesso de “3 Refeições” no Cine Cultura Liberty, “graças à generosidade dos donos, Nilson Ribeiro e Vera Corraleiro, prenuncia um lindo caminho para o filme: quero vê-lo passando, de graça, em praças, igrejas, escolas, sindicatos, associações, sedes de partidos de esquerda e de movimentos sociais e em mostras e festivais. Vamos inventar uma nova maneira de distribuir filmes, livre e gratuitamente”, promete.

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