"A vida é de quem se atreve a viver".


Hatoum:"Campus da UnB. Brasília, 1968"
Dois livros, presentes que recomendo

Romário Schettino –
 
Neste Natal ganhei dois livros que mereceram ser lidos rapidamente. Foram tão boas leituras que, acho, devem ser recomendados: “A Noite da Espera”, de Milton Hatoum, e “Lima Barreto – Cronista do Rio”, organizado por Beatriz Resende.

O primeiro - A Noite da Espera (Companhia das Letras) - retrata a tenebrosa e angustiante Brasília do final dos anos 60 e início dos anos 70, conta a história vivida por um ex-morador da cidade. Hatoum é autor de um enredo emocionante, ao mesmo tempo triste e bem humorado. Eu me vi ali no meio, ainda que indiretamente. Senti o medo que ele sentiu e também fugi quando muitos tiveram que fugir. Quem viveu nesse período reconhece os personagens, cujos nomes são fictícios no livro. Alguns já morreram, mas todos são inesquecíveis. Esse é o primeiro de uma trilogia denominada "O Lugar Mais Sombrio".

Obrigado, Margarete, que me deu o livro! Obrigado, Milton Hatoum, por ter me transportado para uma Brasília que eu amava, apesar do terrorismo de Estado representado por Médici, e que ainda amo, apesar da degradação urbanística dos dias atuais. A cidade vem perdendo seus encantos, mas ainda é bom tê-la na memória afetiva.

O segundo - Lima Barreto – Cronista do Rio (Editora Autêntica) - é uma coleção de artigos do escritor/jornalista negro que viveu apenas 41 anos na Cidade Maravilhosa e que publicou seus textos em vários jornais cariocas (foto).

Lima Barreto é o cronista que toda cidade gostaria de ter. Segundo Beatriz Resende, ler este livro é “uma bela maneira de conhecer o Rio de Janeiro do início do Século 20, de 1910 a 1920”. Barreto andava, literalmente, a pé pela cidade e olhava de perto todas as mazelas da sociedade.

Suas críticas ácidas às elites econômicas e políticas estão cheias de humanismo e solidariedade com os pobres, sobretudo os negros, que saíram da escravidão oficial para uma liberdade sem a mínima proteção social.

Lima Barreto conheceu de perto a trágica transição da Monarquia para a República, comandada por uma oligarquia civil-militar de dar arrepios. O nascimento da Velha República, que até hoje respira em nosso cenário político, era detestado por Barreto pelo seu caráter autoritário e elitista.

Ler Lima Barreto é um prazer para quem admira as belezas do Rio de Janeiro e tem as mesmas preocupações com as injustiças e as desigualdades sociais.

Obrigado, Sylvio Peixoto e Cesar Fernandes, por este presente!

Para quem gosta do Rio e de Brasília, são duas sugestões de leitura fascinantes. Aproveitem.

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