"A vida é de quem se atreve a viver".


Documentário de Aurélio Michiles resgata a memória do cinéfilo Cosme
A paixão de Cosme gravada na tela

Romário Schettino -

Quem vê na tela a cinebiografia de Cosme Alves Netto, de autoria do igualmente amazonense Aurélio Michiles, enxerga também a memória de quem cuidou da memória do cinema brasileiro nos mínimos detalhes.

A importância do biografado como arquivista e sua vida de cinéfilo, politizado, são atestadas pelos mais destacados cineastas que com ele conviveram e conheceram sua trajetória de militante na luta contra a ditadura brasileira na área que mais conhecia, e pela qual era apaixonado, o cinema.

Cosme era corajoso e generoso, dizem figuras da crítica, da produção cinematográfica e da pesquisa acadêmica nacional, como José Carlos Avellar, Eduardo Coutinho, Carlos Diegues, Maria do Rosário Caetano, Andrea Tonacci, Wladimir Carvalho.

O cinema é, talvez, a área mais importante da resistência ao autoritarismo, porque resgata a identidade do povo brasileiro e expõe em imagens, textos e sons o que vem a ser isso que chamamos Brasil.

Cosme foi curador da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro por mais de duas décadas. Foi preso duas vezes e torturado durante a ditadura militar. Muito sofrimento, mas nada disso retirou do foco esse amazonense, de origem burguesa, apaixonado pelo cinema e por suas historias.

O filme mostra um retrato quase completo do arquivista cinematográfico e cinéfilo Cosme Alves Netto, fundador de cineclubes e ousado programador de cinemas de arte. Um recorte que Aurélio Michiles vem trabalhando desde que iniciou a sua trilogia sobre o cinema brasileiro.

O primeiro, em 1991, com “Que Viva Glauber!”, sobre o enigmático Glauber Rocha. O segundo, “O Cineasta da Selva”, que conta a história de Silvino Santos (1886 - 1970), um cineasta que trouxe às telas as primeiras imagens da Amazônia no início do século XX.

Durante a exibição deste elaborado documentário de 1 hora e 37 minutos, em DVD, a gente fica sabendo de histórias corajosas de Cosme, como o dia em que ele levou para Leipzig, na Alemanha, um filme censurado pelos militares, aqui e no exterior.

O cineasta Andrea Tonacci, autor de “Blá, blá, blá”, curta-metragem que ganhou o Festival de Cinema de Brasília de 1968, conta que Cosme não só exibiu o filme proibido na Cinemateca do MAM como o levou, em sua bagagem, para a Europa com o nome de “Anônimo nº 1”, do Brasil. Foi assim que Tonacci teve sua estreia internacional.

Eu recomendo.

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