"A vida é de quem se atreve a viver".


Silvia Federici: “De Lênin a Gramsci, toda a tradição da esquerda concordou com a ‘marginalidade’ do trabalho doméstico para a reprodução do capital e com a marginalidade da dona de casa para a luta revolucionária”.
Silvia Federici: “O capital não organizou nossas cozinhas e nossos quartos”

Chega às livrarias nos próximos dias a nova obra da escritora italiana Silvia Federici. O livro intitulado, O patriarcado do salárionotas sobre Marx, gênero e feminismo – traz ao leitor uma série de artigos que abordam a relação entre marxismo e feminismo do ponto de vista da reprodução social.

A filósofa italiana retoma as diversas discussões presentes nas obras de Karl Marx e Friedrich Engels e aponta como “a exploração de trabalhos, como o doméstico e o de cuidados, exercido pelas mulheres sem remuneração, teve e tem papel central na consolidação e na sustentação do sistema capitalista”, informa a nota de divulgação da Editora Boitempo.

A obra também revisita a crítica feminista ao marxismo e traz para o debate “perspectivas contemporâneas sobre gênero, ecologia, política dos comuns, tecnologia e inovação, Federici reafirma a importância da linguagem, dos conceitos e do caráter emancipador do marxismo. Ao mesmo tempo, esclarece por que é preciso ir além de Marx e repensar práticas, perspectivas e ativismo a fim de superar a lógica social baseada na propriedade privada e desenvolver novas práticas de cooperação social”.

Sobre a autora

Silvia Federici (foto, acima) nasceu na Itália em 1942 e é escritora, professora e militante feminista. No fim da década de 1960, mudou-se para os Estados Unidos. Lá, em 1972, ajudou a fundar o International Feminist Collective (Coletivo Internacional Feminista) e, então, lançou uma campanha por salários para o trabalho doméstico. Pela Editora Boitempo, em 2019, publicou Mulheres e caça às bruxas.    

Trecho do livro

“Depois que a esquerda aceitou o salário como a linha divisória entre trabalho e não trabalho, produção e parasitismo, uma enorme parcela do trabalho não assalariado que as mulheres realizam dentro de casa para o capital passou despercebida das análises e estratégias de esquerda.

De Lênin a Gramsci, toda a tradição da esquerda concordou com a ‘marginalidade’ do trabalho doméstico para a reprodução do capital e com a marginalidade da dona de casa para a luta revolucionária. Para a esquerda, na condição de donas de casa, as mulheres não sofrem por causa da evolução capitalista, mas pela ausência dela.

Nosso problema, ao que parece, é que o capital não organizou nossas cozinhas e nossos quartos, o que gera uma dupla consequência: a de que nós aparentemente trabalhamos em um estágio pré-capitalista e a de que qualquer coisa que fazemos nesses espaços é irrelevante para a transformação social. Pela lógica, se o trabalho doméstico é externo ao capital, nossa luta nunca causará sua derrocada.”
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Serviço:
Título: O Patriarcado do Salário – Volume I
Autora: Silvia Federici
Tradução: Heci Regina Candiani
Editora: Boitempo

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