"A vida é de quem se atreve a viver".


Exposição Casa Carioca (Foto: Alan Fontes/Série Sweet Lands)
Museu de Arte do Rio reabre com duas exposições inéditas

O Museu de Arte do Rio (MAR) vai começar a receber o público em visitas gratuitas para duas exposições inéditas: Casa Carioca e Aline Motta: memória, viagem e água. Os primeiros dias de visitas serão de 22 a 26 de setembro e as inscrições podem ser feitas no site do museu.

O MAR ainda está sem previsão de abertura total. Falta a recomposição dos recursos financeiros da Prefeitura, necessários para o pleno funcionamento do museu. Por enquanto, apenas quatro galerias vão funcionar e as visitas serão feitas com grupos de até 60 pessoas a cada duas horas (entre 10h e 12h; 14h e 16h e 16h e 18h).

Coletiva Casa Carioca – Com um recorte de cerca de 600 obras e mais de 100 artistas, a mostra apresenta temas como sociabilidade, o papel da mulher como esteio de família e direito à moradia. Trabalhos que retratam o período de isolamento social também fazem parte da montagem, assinada por Marcelo Campos, curador-chefe do MAR, e Joice Berth, arquiteta, urbanista e ativista do movimento feminista negro.

A exposição ocupará integralmente duas galerias do terceiro andar da instituição, além da Sala de Encontro localizada no térreo. Reunindo nomes como Érica Magalhães, Max Willà Morais, Maxwell Alexandre, Millena Lízia, Mulambö, Rafael BQueer, Raquel Nava, Rodrigo Torres, Wallace Pato, Yhuri Cruz e Yuri Firmeza.

Casa Carioca é a exposição do MAR com maior número de artistas jovens e periféricos. São trabalhos nos mais diversos suportes, como vídeos, objetos, instalações, fotografias e pinturas, que dialogam com temas como a diferença entre as moradias de favela e as moradias de elite - designadas aqui como exceções -, incêndios, mudanças, construções, demolições e celebrações.

Além de apresentar ao público a produção contemporânea de novos talentos da arte brasileira, a mostra também contará com trabalhos de artistas consagrados, como Adriana Varejão, Alfredo Volpi, André Rebouças, Beatriz Milhazes, Cícero Dias, Lasar Segall, Marcel Gautherot, Mestre Valentim e Walter Firmo. Além de obras da Coleção MAR, trabalhos emprestados por mais de 30 instituições e por colecionadores ajudam a formar o percurso expositivo, que começa com uma linha do tempo da arquitetura no Rio de Janeiro e segue por 10 núcleos que fazem uma abordagem transversal das questões relacionadas ao morar.

"Durante a fase de pesquisas, nos deparamos com um dado surpreendente. Apenas 15% das casas brasileiras são construídas por arquitetos, com a grande maioria se enquadrando no que os especialistas chamam de autoconstrução, quando o próprio morador comanda a obra com ajuda de parentes e vizinhos. Pensando nisso, buscamos artistas e trabalhos que tratam das condições dessas moradias e que exploram o interior das residências, relacionando-as com a questão social", conta o curador Marcelo Campos.

Das redes sociais para o museu

Entre os destaques da curadoria está a tirinha Os Santos - Uma tira de (humor) ódio. Muito conhecido nas redes sociais, o projeto da escritora Triscila Oliveira e do ilustrador Leandro Assis joga luz sobre assuntos como a desigualdade social, a falta de empatia e o racismo, entre outros temas, a partir de situações do cotidiano. Obras relacionadas à pandemia, como a de Max Willà Morais, na qual os artistas retratam o isolamento dentro de suas casas, também estarão no acervo.

Outro destaque é uma grande instalação com filtros de barro, do Estúdio Gru.A, que mostra a relação entre a água e a cidade. O trabalho cria um novo sub-ramal de distribuição de água do edifício do MAR, prolongando-o até a calçada da Praça Mauá, onde são instaladas três bicas públicas

Inicialmente, Casa Carioca estava prevista para inaugurar em maio deste ano como parte da programação do Congresso Mundial de Arquitetos. No entanto, por causa da pandemia da Covid-19, tanto a exposição quanto o congresso precisaram ser adiados. Por isso, em abril, o museu iniciou a campanha #CasaCariocaMAR que levou para as redes sociais conteúdos inéditos relacionados à mostra coletiva.

Mostra Aline Motta: memória, viagem e água é um mergulho na memória da família da artista, por meio de montagem que apresenta uma trilogia de videoinstalações de forma sequencial e dinâmica. Ocupando uma galeria do 1º andar do pavilhão de exposições, os três trabalhos - Pontes sobre abismos (2017), Se o mar tivesse varandas (2017) e Outros fundamentos (2019) - tomaram forma após a artista descobrir um segredo de família contado pela avó: sua bisavó era escrava e havia engravidado após ser abusada por seu dono. A partir da revelação, Aline iniciou uma busca por suas raízes em lugares distantes entre si, mas aproximados pelo Oceano Atlântico. Tudo isso é alinhado em uma obra repleta de água salgada, doce, transparente ou poluída.

"A confidência de minha avó, Doralice, foi o ponto de partida para iniciar a gravação da trilogia. Na busca por informações sobre o passado da minha família, em um trabalho que durou quatro anos para ser finalizado, realizei quatro viagens superintensas por Serra Leoa, Nigéria, Portugal e também pelo Brasil, onde foram coletadas imagens e documentos para compor as videoinstalações. Essas descobertas marcam o modo que encontrei para lidar com os fatos étnico-raciais na minha família, visando entender melhor seus efeitos no presente", afirma a artista.

Por meio de sua obra, Aline se aprofunda em histórias ligadas à escravidão negra e de como sua família - de um lado portuguesa, de outro africana e afro-brasileira - é atravessada por essas relações desiguais que definem as particularidades da sociedade brasileira. Com as videoinstalações, a artista aborda essas questões de maneira poética, propondo um mergulho em suas próprias vivências e memórias.

"A obra de Aline Motta adensa-se em cores, contrastes, sombras, buscando altas definições que não estão nas imagens, mas, antes, nas histórias para além da fotografia. Invocam-se as vozes, os corpos, os nomes e sobrenomes, ampliando os sentidos de muitas histórias de vida. A fotografia se reordena entre achados e perdidos; muitas vezes nos confundimos entre documentos de gaveta e o presente fotográfico coletado diretamente. Com isso, pontes são construídas a todo instante, entre Brasil e África, Rio de Janeiro, Bahia e Lagos, entre a artista e suas avós, seus parentes no Orun", escreve Marcelo Campos, curador chefe do MAR, no texto de apresentação da exposição.

Você não tem direito de postar comentários

Destaques

Mais Artigos