"A vida é de quem se atreve a viver".


O livro A Estante dos Poetas pode ser adquirido por encomenda na Ibis Libris Editora pelo telefone (021) 3546-1007.
Leitura de quarentena

Luis Turiba –

É alentador pertencer a uma micro comunidade que se reúne em pequenas multidões para navegar em linguagens, tiradas, rimas e encantamentos, lendo e trocando livros. E mais: seus participantes curtem, fazem e ouvem poemas no dia-a-dia e, assim, na convivência de carinhos, respeito e delicadezas mútuas, afastam maus augúrios e sombrios sentimentos de angústia, letargia e paúra por conta destes tempos viróticos que vivemos.

Poesia=resistência. Tenho a sorte de estar próximo e conviver com uma dessas pequenas comunidades que pulsam na cidade do Rio de Janeiro. Aprendo e apreendo muito nessa convivência linguística e humana. Há trocas. Assim, sinto que a poesia da minha geração está viva, atua em bom nível e carimba sua história no catálogo do nosso tempo.

O poeta não é ser formal nem informal – poeta é ser anormal. Os sentidos das transformações semânticas que ele promove, quer nas falas, gráficos e escritos, aquilo que entorta o que está direito e dá novas dimensões às palavras, pertence ao seu ofício.

Invenção e desafio sempre. Assim, o poeta existe para assombrar e despertar consciências com metáforas inimagináveis voltadas tanto para a beleza do que está por trás da vida cotidiana e citadina, como para denunciar as injustiças e as ganâncias desse capitalismo selvagem. Poeta é um inventor de novas realidades e sonhos, um fazedor de inutensílios, dizia Manoel de Barros.

É sobre uma dessas sociedades de Poetas Vivos que escrevo hoje. Ela e seu produto, um simples livro. Esta sociedade aconteceu quase que espontaneamente por conta de um processo criativo, inimaginável, mas totalmente amigável - “um lance de dados” de Mallarmé, digamos assim.

Nomes aos bois: coube ao jovem poeta e produtor carioca Paulo Sabino, com sua energia paciente e catalizadora, propor, dirigir e orientar esse processo ao longo dos últimos anos aqui no Rio, cidade onde vivemos e moramos.

Esta tribo de seres libertos/literários vem poetizando e convivendo desde 2015 por conta de “Ocupações Poéticas” do Teatro Cândido Mendes, em Ipanema. Finalmente, neste início de 2020, o livro-musa se materializou como num passe de mágica editorial depois de muito trabalho e articulações.

Trata-se de um livro/antologia - A Estante dos Poetas -, editado no início deste ano pela Ibis Libris, sob a coordenação da também poeta Thereza Christina Rocque da Matta.

A antologia reúne 60 poemas e fotos de seis poetas (fotografia, abaixo), digamos, “cascudos” no fazer literário carioca. Ao longo do ano passado, eles participaram de encontros realizados no Espaço Afluentes, (Av. Rio Branco em frente ao Metrô Carioca) dirigido pelas irmãs Claudia e Mariana Roquete-Pinto. Estou contando tudo isso para dizer que o livro é fruto de um processo criativo/participativo.

São poetas escolhidos pela curadoria da "Estante" foram: Adriano Espínola, Antônio Carlos Secchin, Antonio Cícero, Geraldo Carneiro, Paulo Henriques Britto e Salgado Maranhão. Uma verdadeira seleção de bardos que contaram em encontros intimistas dirigidos por Sabino, suas peculiares histórias de como se deu “o encantamento” de cada um com o universo literário/poético. Cada história, melhor que a outra. No entanto, as narrativas não foram gravadas, mas os poemas ficaram e agora foram reunidos neste livro que tem tudo para fazer história.

Desses seis, três já estavam presentes no marcante livro “26 Poetas Hoje” da professora Heloísa Buarque de Hollanda, editado em 1975, reunindo o melhor do que viria a ser a chamada Poesia Marginal. Salgado Maranhão vem também desta época e de uma antologia só de poetas negros – "Ebulição da Escrivatura" – editada pelo Civilização Brasileira por ele e pelo poeta Ele Semog. Adriano Espínola vem de uma safra especial do Ceará e o poeta/professor Paulo Henriques Brito, autor de 10 livros e tradutor de aproximadamente 110 livros. Importante: três deles pertencem a “ala jovem” da Academia Brasileira de Letras (ABL): Geraldinho, Secchin e Cícero.

Cada poeta comparece na antologia com 10 poemas. Não preciso dizer que todos valem ser lidos quer à boca pequena ou a plenos pulmões. São versos elaboradíssimos e inspirados. Assim, o conjunto torna-se uma verdadeira aula na arte da construção de poemas e o que é melhor para quem olhar para o futuro: aponta para, quem sabe, um novo “paideuma’ da poética brasileira no pós Drummond, Bandeira, Haroldo, Cabral e Gullar – todos mestres nessa arte.

Para não dizer que só elogiei o livro, aqui vai um puxão de orelha editorial: há excesso de fotografias. 

Para quem deseja ter o livro, pedidos/encomendam para a Ibis Libris Editora pelo telefone (021) 3546-1007.

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