José Carlos Peliano –
o caminho não é lá
onde o chão batido escutava os pés descalços
a manhã inventava de vir vestida de cerração
o friozinho se fazia de borboletas sobre o capinzal
o cheiro de café dançava ar afora
não é lá o caminho
que levava pipas carregadas de sonhos ao céu
onde urubus esticavam o pescoço para vê-las
vacas se fazendo de fazenda
fazenda se fazendo de vacas
o caminho não é lá
nem a memória dá conta de tê-lo em conta
foi levado pelas chuvas que viraram barro
pelo barro que virou poeira
pela poeira que o vento descabelou
não é lá o caminho
onde eu fazia caminha de sol e estrelas
deitado no topete do morro como um rio passando devagar
cheio de olhos meninos contando estrelas e sóis
a cada dia que virava um universo de desejos
não é mais lá o caminho
o caminho não é mais lá
nem que eu esprema a vida no pilão
tome o sumo do infinito desdobrado
e me veja de calças curtas, olhos compridos e tempo sem tamanho
o caminho não é mais lá
não é mais lá o caminho
retiro do baú os guardados de arrepios e bonanças
remonto a eternidade que em mim estica seus braços
para que eu abrace o mistério feito lavas de um vulcão