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Obra censurada de Órion Lalli é mais um atentado à liberdade de expressão.
Artista censurado vai depor em delegacia

O artista plástico Órion Lalli, que foi censurado na exposição que estava aberta ao público no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, no centro do Rio de Janeiro, foi convocado para depor nesta terça-feira (3/3) na Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância (Decradi).

A convocação foi feita após o deputado estadual Márcio Gualberto e a deputada federal Chris Tonietto, ambos do PSL do Rio, terem apresentado uma notícia-crime denunciando a exposição "Todxs xs santxs - renomeado - #eunãosoudespesa". O estado é laico, mas alguns parlamentares agem como se estivessem em plena inquisição medieval.

A exposição foi suspensa pela A Secretaria Municipal de Cultura (SMC) do Rio sob a alegação de que a obra de Órion Lalli “representa vilipêndio ao sentimento religioso, crime expresso no artigo 208 do Código Penal”. O oratório de Órion mostra uma imagem feminina com seios e um pênis.

Órion Lalli disse à imprensa que sua obra não é a representação de uma santa religiosa cristã: “É um recorte de imagem, não é uma peça religiosa. A partir do momento que fiz isso, é a minha imagem. Estão dizendo que é a imagem de uma santa cristã, mas não é. É a minha santa. É o meu oratório. É o meu corpo HIV+ sendo ofertado para essa minha imagem. Preciso falar sobre meu corpo que vive com HIV. Querem me acusar de um crime que não cometi. Essa censura indica que temos muito caminho pela frente e que o meu trabalho, assim como o de outros artistas, tocam numa ferida social, e é isso que tentamos trazer numa obra de arte. Nesse momento em que um trabalho como esse é censurado, a discussão está muito longe de ser razoável”.

A exposição era composta por obras de 30 artistas do Coletivo Lavra, mas só o oratório de Órion foi censurado porque além da imagem tinha a inscrição: “Deus acima de tudo, gozando acima de todos".

No último domingo, o secretário municipal de Cultura do Rio, Adolpho Konder, publicou um vídeo nas redes sociais afirmando não "admitir nada que promova intolerância e ofensa ao sentimento religioso de qualquer credo".

Por nota, a SMC afirma que manterá a suspensão enquanto a queixa estiver em tramitação e respeitará o processo legal, aguardando a decisão judicial. Diz ainda que "reafirma seu compromisso com o respeito constitucional à liberdade religiosa e a todas as crenças" e que "nossos equipamentos abrigam manifestações culturais de todas as linguagens e estilos, sendo um dos nossos pilares o respeito à liberdade artística".

Os artistas plásticos envolvidos na exposição preparam a defesa da liberdade de expressão em ato público no dia 7/3 (sábado), às 15h, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, no Centro Rio. Também vão buscar apoio jurídico para defender seus direitos e da cidadania, que está sendo privada de ter acesso à produção cultural.

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