Luiz Turiba –
arquivo vivo
é inqueimável
pouco importa o grau
da sua combustão
inefável
falta ar na jugular
arquivo crível
do que te faz
arqui-inimigo
um arquivo, enfim,
não tem fim
ente eterno e etéreo
um arquivo tudo recebe
& a tudo guarda
da jovem guarda
à guarda vermelha
do camarada Mao Tsé Tung
ninguém pode anular
um arquivo vivo
nem matá-lo nem queimá-lo
VIVO!
como vela de sete dias pra Exu
câncer de pele
bucha de canhão
prédio no centro de São Paulo
fogueira de São João
arquivos são imortais
nem bala de prata os matam
tudo que neles habita
são seus ressuscitáveis
a carta escrita pelo náufrago
lacrada & velada
na garrafa lançada aos oceanos
não se afoga
sobrevive e revela-se
arquivo é um híbrido
de arquétipos
cármicos e arqueológicos
ressurge em dialetos
em outras, hieróglifos
queimá-los é acordá-los
do sono dos mortais
é ir contrário
a lei cósmica cujo
universo conspira
então, meu chapa
não pense ser dono do destino
teu engano
e não ver cair o pano
há sempre uma testemunha-chave
fogo-fátuo alma vivente
autorretrato da realidade
que transparece, não o crime
perfeito, mas moto-contínuo
el perpetuum mobile
que ressuscita sempre o seu
moribundo arquivo:
o detalhe, mesmo lívido
pulsa vívido