Cinema para russos, cinema para soviéticos, novo livro do professor João Lanari, será lançado neste sábado, 23/11, às 11h, na Livraria da Rua, na rua Antonio de Albuquerque, 913, Savassi, em Belo Horizonte. Nesse dia haverá um debate entre o autor do livro e o cineasta e professor Eweron Belico, com mediação do curador e critico de cinema Marcelo Miranda.
O livro também será lançado em Brasília no dia 29/11, sexta-feira, às 19h, no Cine Brasília (106 Sul), durante o 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
O livro de Lanari, publicado pela Editora Bazar do Tempo, é resultado de mais de cinco anos de pesquisa do professor João Lanari Bo, que reúne em seu livro mais de 150 filmes e diretores e 60 fotos inéditas, apresentando um impressionante panorama da cinematografia feita na Rússia, da era pré-revolucionária à invasão de Praga, em 1968.
Nessa abordagem, o autor conjuga uma grande variedade de filmes aos contextos dessas produções, revelando a íntima e dominante relação entre cinema e política, forças de poder e controle ideológico, personalismo e propaganda.
O livro surgiu a partir de uma leitura de O Fim do Homem Soviético, da escritora e jornalista Svetlana Alexievich (Prêmio Nobel em 2015). Uma visão diferente do "Cinema Japonês – filmes, histórias, diretores", livro em que o autor trouxe para a escrita a sua experiência de viver no Japão e conhecer de perto a cultura e o cinema de lá.
“Fiquei impressionado quando li a Svetlana, isso de certa forma me inspirou na pesquisa. No livro, sobressai a ambiguidade entre russos portadores de uma cultura internalizada historicamente e os cidadãos carregados de artificialismo soviético, ambiguidade que acabou configurando também a expressão cinematográfica”, conta João.
Dividido em quatro capítulos, Cinema para russos, cinema para soviéticos (capa do livro, abaixo) trata a produção cinematográfica russa desde seus primórdios; passando pelos cultuados filmes dos anos 1920; e nos anos 1930, em que Stálin assumiu um papel radicalmente controlador do Estado e da produção cinematográfica, resultando em um cinema dirigido e orientado – e indo até 1968, um ano decisivo para a história do projeto soviético.
“Quando Stálin morre [1953] o cinema passa por uma abertura, que impactou enormemente a produção. Em 1968, na Primavera de Praga, intensificam-se novamente as instâncias censórias. Tenho o projeto de fazer a segunda parte, pós 1968, passando pela queda do comunismo em 1989-90, um território acidentado e interessante historicamente”, completa João.
A história e os filmes
“Esse livro retrata uma oscilação que atravessou todo o século XX e que perdura ainda, de certa forma, na cinematografia daquele país-continente. Gelo e degelo na esfera política, tal como a metáfora dos historiadores para descrever os apertos e relaxamentos do regime. Momentos em que o homem soviético era reassegurado, louvado, enaltecido; momentos em que o homem russo se impunha, portador de uma espécie de retorno do real que invadia o espaço e o tempo do cinema”, explica Lanari.
O primeiro capítulo, Da era tsarista à virada socialista, aborda a revolução de 1917, os anos turbulentos do imediato pós-revolução e a década de 1920. Destaque para filmes de Kulechov, Eisenstein, Pudovkin, e também de Kozintsev, Perestiani e Protazanov. Sem esquecer a produção na era pré-revolucionária, onde sobressai um nome como Bauer: “Durante muito tempo era como se a produção audiovisual na Rússia antes de 1917 pertencesse a um domínio excluído da história do cinema, como se não existisse, simplesmente. A verdade é que muitos filmes, bons e ruins, foram produzidos na Rússia tsarista”, diz João Lanari no livro.
O segundo capítulo, Stálin no poder, o regime de controle começa com a ascensão de Stálin ao centro das decisões: o resultado disso é uma produção mais centralizada e controlada, mas com filmes de grande projeção, de diretores como Ermler, Tráuberg, Aleksandrov e Romm.
O terceiro capítulo, Cinema em vias de guerra fala sobre a produção durante a Segunda Guerra Mundial e a Guerra Fria que se seguiu: a forma como impactaram as produções cinematográficas faz-se sentir desde o deslocamento dos estúdios para a Ásia Central, em um primeiro momento, ao uso do cinema como veículo de propaganda do comunismo, após a 2ª Guerra. Destacam-se nomes como Piriev, Kalatozov e Tchiaureli.
“Mesmo com a escalada de tensões internacionais na década de 30, a produção cinematográfica na URSS manteve-se estável: 40 filmes em 1937; 44 em 1938; 57 em 1939 e 46 em 1940. Não obstante, as dificuldades para aprovação de projetos perduravam, limitando o número de filmes finalizados. A expectativa dos realizadores era de que o envolvimento do país em um conflito global pudesse atenuar barreiras ideológicas e injetar estímulo na produção, pelo efeito mobilizador que o cinema poderia proporcionar”, aponta João Lanari no livro.
O quarto e último capítulo, Rumo ao moderno cinema soviético, tem como pano de fundo a morte de Stálin, que ampliou as opções temáticas dos realizadores. “Os diretores passaram a ter muito mais liberdade de escolha dos temas: um exemplo disso é ‘Tenho vinte anos’, de Marlen Khutsiev, que fala sobre juventude e liberdade, um filme significativo desse novo período”, afirma Lanari.
O livro apresenta ainda uma bibliografia anotada pelo autor, uma peculiaridade a mais para quem se interessa por história, em especial da perspectiva do cinema.
Imagens raras
Para os amantes do cinema, a edição é bastante requintada e virá acompanhada de um cartaz do filme Um Homem com uma Câmera - 1929 - (foto, abaixo), de Dziga Vertov. O livro é ilustrado por 60 fotos, muitas delas nunca publicadas no Brasil, gentilmente cedidas pelo estúdio Mosfilm, a tradicional produtora da antiga URSS e agora da Rússia, com apoio da CPC-UMES Filmes. O cartaz está estampado no verso da sobrecapa.
Para a pesquisa, o autor assistiu a centenas de filmes e muitos deles têm direitos de exibição abertos ao público, estando disponíveis na internet. Cinema Para Russos, cinema Para Soviéticos revela o universo fascinante dessas produções e tem tudo para encantar antigas e novas audiências.
Sobre o autor:
João Lanari Bo nasceu em São Paulo, e vive atualmente entre Brasília e Rio de Janeiro. É professor de cinema da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (FAC-UNB) desde os anos 1980. Residiu em Tóquio por três anos e publicou, após seu retorno, o livro Cinema japonês - filmes, histórias, diretores (2016, Editora Giostri). É realizador e produtor de mais de 15 filmes. Foi colaborador dos periódicos Correio Braziliense e a revista Devires. Atualmente colabora com o site www.brasiliarios.com
Destino de um homem, dir. Serguei Bondartchuk, 1959
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SERVIÇO:
Obra: Cinema para russos, cinema para soviéticos
A edição traz o cartaz original do filme Um Homem com uma Câmera (1929), de Dziga Vertov.
Editora: Bazar do Tempo – 2019