Marilu Dumont (*) –
Passou um pé de vento por aqui, levou as flores de manga, passou entre dois cajueiros, e lá estava na pracinha - aquela com um coreto bem no meio. Lugar da memória onde a gente brincava de “parte-queijo” e de “bicho voa?.”
Decerto que a Casa Voadora de “ZéCarlos” ficava bem por ali. Foi uma delícia reencontrar “o camundongo, dor de cabeça de todos da casa, ratinho esperto feito pernilongo ia, vinha e voava sem ter asa”.
Brincar de “parte queijo” era a brincadeira favorita da meninada de beira de rio. E depois a gente sentava bem no centro do coreto pra animar o dia com “bicho voa”, desafio de palavras fiadas e afiadas. Brincadeiras ingênuas sem celular nem nada, e que levavam a imaginação pra Casa Voadora do ZéCarlos.
Fiquei dentro da casa dele apreciando encantada os voos rasantes de cada objeto que passava de raspão na minha cabeça, puxava a ponta dos novelos da minha caixa de linhas. O meu bordado tava bem em cima da mesa prestes a alçar voo e a agulha olhou assombrada pro aspirador.
Catei minhas linhas e a tesoura predileta (já pensou se elas resolvem acompanhar a vassoura ou o cortador de grama?). O pé de vento me levou pelos cantinhos da casa. E cadê aquele menino atentado que subia em pé de amora só pra bisbilhotar a lagarta virando borboleta? Ou estaria no galinheiro pra descobrir como a galinha bota ovo? Bem no centro do novelo de lã saiu o fio da memória que virou um varal na Casa Voadora, bem no coração do quintal. ZéCarlos foi quem puxou o fio.
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Serviço:
Título da obra: A Casa Voadora
Autor: José Carlos Peliano
Ilustrações: Adriana Peliano
Editora: Patuá – 2019
Número de páginas: 48
Preço de capa e na Amazon: R$ 45
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(*) Marilu Dumont é artista plástica, psicóloga e bordadeira de artes e encantos.