"A vida é de quem se atreve a viver".


"As filhas de Eva", obra de Rosana Paulino em exposição no MAR a partir de 13/4.
Rosana Paulino: A Costura da Memória

Depois de expor suas obras na Pinacoteca de São Paulo, a artista Rosana Paulino, nascida em São Paulo em 1967, apresenta no Museu de Arte do Rio (MAR – Praça Mauá – Centro do Rio) as 140 obras produzidas ao longo de 25 anos de carreira. Exposição será aberta no dia 13/4 (sábado), às 16h. Temporada até 25 de agosto.  Entrada gratuita.

Essa é a maior individual da artista já realizada no Brasil. Com a curadoria assinada pelos curadores do museu paulistano, Valéria Piccoli e Pedro Nery, a mostra reúne esculturas, instalações, gravuras, desenhos e outros suportes, que evidenciam a busca da artista no enfrentamento com questões sociais, destacando o lugar da mulher negra na sociedade brasileira.

Rosana surge no cenário artístico nos anos 1990 e se distingue, desde o início de sua prática, como voz única de sua própria geração. Os trabalhos selecionados, realizados entre 1993 e 2018, mostram que sua produção tem abordado situações decorrentes do racismo e dos estigmas deixados pela escravidão que circundam a condição da mulher negra na sociedade brasileira, bem como os diversos tipos de violência sofridos por esta população.

Um dos destaques da mostra é a “Parede da Memória”. Realizada quando a artista ainda era estudante, a instalação é composta por 11 fotografias da família Paulino que se repetem ao longo do painel, formando um conjunto de 1.500 peças. As fotos são distribuídas em formatos de “patuás” – pequenas peças usadas como amuletos de proteção por religiões de matriz africana. O mural se transforma em uma denúncia poética sobre a invisibilidade dos negros e negras que não são percebidos como indivíduos. Quando os 1.500 pares de olhos são postos na parede, “encarando” as pessoas, eles deixam de ser ignorados.

A exposição também conta com uma série lúdica de desenhos feitos por Rosana Paulino, na qual a artista revela sua fascinação pela ciência e, em especial, pela ideia da vida em eterna transformação. Os ciclos da vida de um inseto são feitos e comparados com as mutações no corpo feminino, por exemplo. A instalação Tecelãs (2003), composta de cerca de 100 peças em faiança, terracota, algodão e linha, leva para o espaço tridimensional o tema da transformação da vida explorado nos desenhos.

Em alguns de seus trabalhos a relação de ciência e arte é destacada, como em Assentamento (2013). A série retrata gravuras em tamanho real de uma escrava feitas por August Sthal para a expedição Thayer, comandada pelo cientista Louis Agassiz, que tinha como objetivo mostrar a superioridade da raça branca às demais. Para Paulino, “a figura que deveria ser uma representação da degeneração racial a que o país estava submetido, segundo as teorias racistas da época, passa a ser a figura de fundação de um país, da cultura brasileira. Essa inversão me interessa”, finaliza a artista.

SOBRE ROSANA PAULINO

Doutora em artes visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo – ECA/USP, é especialista em gravura pelo London Print Studio, de Londres e bacharel em gravura pela ECA/USP. Foi bolsista do programa bolsa da fundação Ford nos anos de 2006 a 2008 e CAPES de 2008 a 2011. Em 2014 foi agraciada com a bolsa para residência no Bellagio Center, da fundação Rockefeller, em Bellagio, Itália.

Como artista vem se destacando por sua produção ligada a questões sociais, étnicas e de gênero. Seus trabalhos têm como foco principal a posição da mulher negra na sociedade brasileira e os diversos tipos de violência sofridos por esta população decorrente do racismo e das marcas deixadas pela escravidão.

Possui obras em importantes museus tais como MAM – Museu de Arte Moderna de São Paulo; UNM - University of New Mexico Art Museum e Museu Afro-Brasil – Pão Paulo.

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