Antônio Carlos Queiroz (ACQ) -
Qual é a minha opinião sobre o Natal? Assim, na lataN? Acho o mó barato!
O Natal é uma traição epicurista dos e para os cristãos. Uma festa para o corpo, não para o espírito pretensamente separado da carne, como imaginou São Paulo.
A rabanada e o vinho abundante são, definitivamente, incompatíveis com a primitiva proposta da Eucaristia.
Saulo de Tarso, educado no Epicurismo, repudiou essa filosofia das sensações, bicentenária já em sua época, para fundar a religião do puro espírito, avessa à atualidade e alegria da matéria corruptível, formada por átomos que se desviam quando caem. Já batizado como Paulo, o apóstolo lamentou que os gregos tomassem como loucura a sua ideia da Ressurreição.
Dois mil anos depois, a despeito dos esforços de Agostinho, Tomás, Inácio de Loyola, Domingos de Gusmão e a Santa Inquisição, a história do Cristianismo é a narrativa de um retumbante fracasso. Tirante pouquíssimos fanáticos (aqueles que usam um chicotinho (cilício) para se mortificar), cristãos e cristãs se entregam hoje freneticamente aos prazeres da carne, no Natal, na passagem do ano, no Carnaval, nas micaretas, na Páscoa, no Dia das Mães, no São João, no Dia dos Pais, enfim, em todas as festas definidas no calendário da Associação Comercial.
O Cristianismo tornou-se a divertida e diversionista religião oficial da Sociedade da Mercadoria, conforme profetizou São Max Weber, depois do Karl Marx provar que o valor de troca (inclusive a troca de presentes) é o verdadeiro espírito e esqueleto do Capitalismo.
Houve época em que, ainda mais cristão que epicurista, me sentia culpado por comemorar o Natal. Com os dentes fincados num pernil à pururuca, regado com Sidra Cereser, me lembrava dos famélicos da terra, excluídos do banquete. Mais tarde me dei conta de que os pobres estavam e continuam excluídos de todas as festas do calendário da Associação Comercial, não só do Natal.
Para suportar (fruindo!) essas festanças, será que eu teria de cultivar um ou dois acres de culpa e outros tantos de hipocrisia (trajada de solidariedade)? De jeito nenhum! Na altura desse campeonato, eu já havia aderido à filosofia da alegria, que, muito antes do Cristianismo, valorizava a vida em abundância. Em vez de atacar o Natal e o Halloween, rituais pagãos no seio da Igreja, adubados pelos comerciantes, percebi que a solução seria o levante dos pobres para a Revolução Socialista, mas sem abrir mão (e os dentes) da leitoa à pururuca.
Desde então me entreguei sofregamente ao espírito do Natal com os filhos, os netos, a neta e as oito renas do Papai Noel: Corredora, Dançarina, Empinadora, Raposa, Cometa, Cupido, Trovão e Relâmpago. Ah, tem ainda o Rodolfo, que não deve ser confundido com o Randolfe, o nosso melhor senador de 2022.
Na manhã do dia 22 de dezembro, enquanto me preparo para a posse do Lula, escrevo essas notas pra lá de irresponsáveis à guisa de votos de boas festas para os amigos, amigas, colegas, parentes e camaradas. Tchin! Tchin!
Como ainda estou cabreiro, peço a gentileza de não me convidarem para o amigoculto. Vai que aparece ali um cristão bolsonarista infiltrado!