Ilustração de Milton Dacosta para o livro "O Amor Natural" de Carlos Drummond de Andrade, pág. 41
Passada a eleição, viva a ereção!

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) -

Depois de meses ouvindo no Uber os sons do Gusttavo Lima, Mateus e Cristiano, todo esse lixo bolsonescroto, calhou de ontem o motorista sintonizar uma rádio que tocava Buena Vista Social Club (Chan Chan), Legião Urbana (Natália) e uns tantos roquinhos maneiros.

Empolgado, comentei que talvez fosse esse um sinal dos novos tempos, inaugurado com a eleição do Lula. O sinesíforo, de nome Tiago, xará do irmão de Jesus Cristo, com barba de meio metro e uma argola desse tamanho na orelha, soltou uma gargalhada. Interpretei como aprovação.

Passada a eleição, com a nossa retumbante vitória contra as forças do Bolsossauron, encerra-se uma era de depressão e começa outra de ereção.

Os leitores da Bíblia como literatura podem argumentar, numa eventual discussão com os neopentecostais, que aqui se demonstra o triunfo das forças que sustentam a Ascenção de Jesus e a Assunção de Maria (mulher também tem ereção!) contra as forças que chafurdam os fascistas nos quintos do Sheol. 

De caso pensado, com régua grega, escolhemos como tema do Dia D, comemorado na quinta-feira, 3, na Livraria Sebinho, o Drummond Erótico. Foi um jeito sutil de demonstrar a vitória de Eros sobre Thânatos, o êxito da política da vida proposta pela Frente Brasil da Esperança contra a necropolítica bolsonarista.

Mais que engraçado, foi libertador ouvir a garotada recitando durante uma hora os poemas de O Amor Natural do maior poeta brasileiro, cheios de coxas, bundas, vulvas, seios, pênis, lábios, línguas, cheiros, gozos…

O amor vencendo o ódio, lambuzando o corpo e lavando a alma, uma e a mesma coisa, tudo misturado.

Eu ali, ajudando a animar a festa de boné parecido com o do Lula na visita ao Complexo do Alemão, letras bordadas em vermelho, CPX, traduzidas em Cerveja, Picanha e Xereca!

Se pudesse ver a cena do Além, imaginem a cara gaiata do Reich colhendo provas para a sua teoria do derretimento da couraça (quem sabe, pré-fascista), ali exposta apenas às alusões à energia orgástica.

E a gente por aqui, concentrados na

“...música incessante
do girabundo cósmico.”

 

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