Da extensa nominata do Anhangão levantada pelo Guimarães Rosa, Facho-Bode talvez seja o mais adequado, né?
Como é que chama mesmo a cruza de Cruz-Credo com Mula sem cabeça?

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Eu tenho alguns amigos que se recusam a pronunciar o nome do Bolsonaro. Escrevem B*, B…, ou recorrem aos famigerados nicks do elemento, tipo Coisa-Ruim, Coiso, Bozo, Belzebozo, Bolsolini, Bolsorritler, Inominável, Capiroto e Mal Lavado etc.

Os linguistas recorrem à classe dos tabuísmos para explicar a razão de tanta gente usar eufemismos e disfemismos quando se referem ao Intragável, preferindo-os ao seu nome próprio. O mesmo fenômeno acontece nos Estados Unidos, onde a escritora Joyce Carol Oates nunca escreve Trump, mas T***p.  

Em casa, quando eu era moleque (tudo bem, ainda sou!), a gente não podia dizer “desgraça” por temor de que ela ouvisse o berro e o interpretasse como invocação. Em vez de xingar alguém de  “desgraçado”, eu esculhambava a vítima com um termo mais ameno, “desgramado”.

Já o Riobaldo Tatarana, preocupado em negar a existência do Diabo, encontrou 92 sinônimos para se referir ao Cujo, três vezes mais do que havia registrado o filólogo português Leite Vasconcelos (1858-1941). Xu!

Um desses amigos a quem pedi esclarecimento me disse que o seu motivo é outro. “Não é tabu. É que eu não quero contribuir para a coleta algorítmica do nome da Besta”. Escrevendo o nome do Canho no Whatsapp ou no Facebook, ele acha que estará cevando a agenda-setting dele. 

De chofre (ou de enxofre!), eu percebi que o Adversário também se atualiza tecnologicamente. No filme Errementari, o Ferreiro e o Diabo, de Paul Urkijo Alijo, baseado num conto do folclore basco, o Drão gótico é distraído quando alguém em fuga espalha grãos-de-bico pelo chão. É que o Malino tem a compulsão de parar para contá-los.

Hoje, ao que tudo indica, os Arrenegados (são Legião!) estão contratados como programadores de algoritmos nas redes sociais. Eles agora contam posts, likes e dislikes para medir o engajamento e o rankeamento das interações dos usuários com vistas a enredá-los nas teias do web feed. Sabem mais da vida do freguês (gostos, preferências, taras, posição no espectro político etc) do que o próprio freguês.

Obviamente, podem muito bem costumizar os algoritmos para reconhecer o nome do Ocultador por trás de siglas como B* ou B…

Em compensação, nós vamos ficando cada vez mais confusos. Se em vez de Lira, o sub-Cabrobó da Câmara dos Deputados, alguém o chama de L**a, o que me garante que eu não vou baralhar esse símbolo com o nome do Lula?

De um jeito ou de outro, somos alvos da tramoia dos criadores dos chatbots, cuja semelhança com a serpente primordial é que eles também nos dão botes, não porém para que tenhamos acesso ao fogo do conhecimento, mas sim para que fiquemos paralisados até o ponto da incomunicação!

Xô, Duba-Dubá, Rasga Embaixo, Rincha Mãe, Sangue d’Outro, Tranjão, Bolsonaro!

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