Essa moça vai longe: Andra Day, 36, atriz, cantora e compositora
Billie Holiday ganhou a guerra!

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Vi Os Estados Unidos versus Billie Holiday, de Lee Daniels, com a super Andra Day (ganhadora do Globo de Ouro e indicada ao Oscar) e o elegante Trevante Rhodes. É um filme apenas mediano no qual a trágica história de Lady Day (1915-1959) nos agarra de qualquer maneira. Billie é retratada como um alvo duplo, da guerra contra as drogas, comandada por Harry Anslinger (Garrett Hedlund), e da guerra contra os negros em luta pelos direitos civis, numa época em que eles  continuavam a ser linchados e queimados nas fogueiras dos supremacistas brancos.

No centro da trama, Strange Fruit (Fruta Estranha), “a música do século” segundo a revista Time, que Anslinger quer extirpar a qualquer custo do repertório de Billie Holiday. Ouça a música aqui

O chefe de Anslinger, o todo poderoso J. Edgar Hoover, diretor do FBI, diz que a canção é “anti-americana” e “provoca o povo de maneira errada”. O próprio Anslinger explica: “Quando os negros usam drogas, eles se esquecem de seu lugar. Eles nos desafiam. É por isso que essa Holiday precisa ser parada. Ela canta essa canção, Strange Fruit, e faz muita gente pensar… de maneira errada”.

De fato, os negros, os judeus e os comunistas pensavam de maneira bem diferente. Eles não achavam certo de maneira nenhuma serem os suspeitos de sempre dos que os queriam mandar ou para a cadeia ou para as fogueiras da Ku Klux Klan.

A espantosa canção, que Billie cantava como se fosse um hino, conta a história dos corpos dos negros pendurados em árvores dos Estados do Sul, estranhas frutas cujo cheiro de flor de magnólia logo iriam recender a carne queimada. “Estranha, amarga safra”. Foi composta a partir de um poema publicado por Abel Meeropol em 1937 e gravada por Billie Holiday em 1939, inaugurando o movimento dos negros pelos direitos civis.

Meeropol musicou o poema com a sua mulher, a cantora Laura Duncan. Ele era escritor, professor e compositor de origem judia. Pior, era comunista. Em 1957, foi o casal que adotou os meninos Robert e Michael, filhos de Julius e Ethel Rosenberg, condenados e executados na cadeira elétrica pelo governo americano sob a acusação de espionagem para a União Soviética.

O que inspirou Meeropol (nome de guerra: Lewis Allan) foi o horror que sentiu ao ver a foto do linchamento de Thomas Shipp e Abram Smith em Marion, Indiana, em 1930. Cartões postais com cenas de linchamento eram muito populares na época. E ainda tem gente que insiste em falar mal da Idade Média!

Spoiler que todo mundo já sabe:

1) O governo dos Estados Unidos ganhou a batalha contra Billie Holiday. Ela morreu no dia 31 de maio de 1959 no Hospital Metropolitan de Nova York devido a um edema pulmonar e insuficiência cardíaca provocados por cirrose hepática. Seu quarto tinha acabado de ser invadido e posto sob guarda da polícia.

2) Billie Holiday ganhou a guerra do governo dos Estados Unidos. O povo preto continua a conquistar espaços no país que o tratava como fruta estranha e Billie é hoje um patrimônio cultural do planeta.

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