Irmão Sol

Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –

Daqui a pouco,
na varanda à guisa de altar,
será hora de testemunhar
uma nova epifania de água e luz
com o coro misto de cães ao longe,
pássaros vizinhos e a criança do 402
reivindicando a mamadeira -

Foi assim no domingo,
foi assim na segunda e,
se não houver um cataclisma,
será assim na quarta-feira -

Ainda estão acesas
as lâmpadas públicas,
o verde mal se distingue,
não há nuvens, só uma bruma rala
que logo será varrida pela vassoura do Sol -

O moleque do 402 parou de chorar
e agora sou eu quem sente
o gosto adocicado da maizena -

O verde e toda a paleta explodem -
Laudato si’, o frate Sole!

Ah, como eram chatas as missas de domingo -
Mal podíamos esperar a oferta do vinho,
sinal de que logo iríamos em paz para casa,
onde nos aguardava uma galinhada fumegante
e a garrafa de guaraná com a tampinha
furada com um prego - 

Agora, quando o tédio gruda em quase tudo,
nunca nos cansa a adoração cotidiana
do Sol no altar da varanda -

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