Antônio Carlos Queiroz (ACQ) –
I – Anjos
Não se pode fiar em anjos
da guarda aqui em Brasília -
São de prata e alumínio
pensos com fios de aço
como os traços do sonho
euclidiano da cidade
bem parida mas sequestrada
e criada sob relho em riste
II – Hic sunt dracones
Não são anjos, são dragões
que partem de suas cadeiras
para esvoaçar sobre os Eixos
caçando as esperanças
que sepultam no campo próprio
ou viram pó no paraíso
do Entorno, na vizinhança
do esquálido Céu Azul
III – Venturis ventis
De ventos se vive em Brasília,
ventos de sonho e futuro -
Sonho do Dom Bosco
Sonhos do Juscelino
Sonhos do Lúcio Costa
Sonhos do Oscar Niemeyer
Sonhos do Athos Bulcão
Sonhos do Anísio Teixeira
IV – Venturis ventis 2
Sonhos do Darcy Ribeiro -
Tantos sonhos, tontos sonhos
tirados do País do Futuro
do sonhador Stefan Zweig
que impaciente com a chegada
da aurora resolveu dormir
para sempre em Petrópolis,
sonhando com serpentes -
V – Da mesma matéria dos sonhos
Antes de enterrar Clóvis Sena,
suave poeta e jornalista,
ele me contou que ao chegar
de ônibus na Capital
os postes do Eixão Sul
foram se inclinando para
lhe dar as boas vindas -
Trazia sonhos na mala e cuia
VI – Em se plantando… já!
Na era de ouro do passado
ou no futuro radiante
vive quem sonha deitado
eternamente em berço esplêndido
É melhor semear (á)gora
pra colher no dia seguinte -
Do futuro ninguém sabe
e o passado é uma ameaça