"A vida é de quem se atreve a viver".


A EBC era para ser uma empresa de comunicação e jornalismo a serviço da sociedade e distante dos cordéis dos governos e das manipulações diretas do ocupante transitório do Palácio do Planalto.
Privatização da EBC. Vai ser rifada, quem vai querer?

Luiz Martins da Silva –

A privatização da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), veja você! Uma empresa criada para ser uma instituição pública de comunicação e para vir a ser um ente público, tal como é previsto no Art. 223 da Constituição, vai ser privatizada, como anunciou Bolsonaro.

A EBC era para ser uma empresa de comunicação e jornalismo a serviço da sociedade e distante dos cordéis dos governos e das manipulações diretas do ocupante transitório do Palácio do Planalto.

Temer já havia desfigurado o projeto, que evoluiu da Radiobrás para uma EBC que, ao ser criada, não chegou a ser uma BBC brasileira, porque nunca houve entre nossos governantes uma sensibilidade para tal, para entender, como os ingleses entenderam.

Os ingleses entenderam que a sociedade inglesa precisava ter uma narrativa dos fatos independente de quem estivesse no comando da política, se conservadores ou trabalhistas. E relatar, como foi relatado, com isenção, a Guerra das Malvinas e as invasões do Iraque. A BBC é uma fundação privada de direito público, mantida com imposto, verbas específicas, doações do público e venda de produção. Alguém que já tenha visto um documentário da BBC sabe da qualidade.

Ao privatizar a EBC, Bolsonaro diz que o melhor lugar de uma emissora pública é com a iniciativa privada. No Brasil? Ao invés de reforçar a recomendação constitucional quanto à prioridade informativa, educativa e cultural da radiodifusão privada, estatal e pública (todas, rádio e TV, concessões públicas).

Bolsonaro vai acabar com um restinho de esperança de que a sociedade brasileira tenha uma mídia eletrônica capaz de equilibrar conteúdos na trilogia que a BBC tornou modelar: Informação, Educação e Diversão. Triste, muito triste, que um presidente da República Federativa brasileira, por decisão pessoal, e da noite para o dia, talvez por não ter nenhuma cultura cívica a respeito da relação entre Comunicação e Democracia, resolve privatizar a EBC. E sabem por quê?

Lamentavelmente, criou-se – e muito com o engodo vulgarizado pela mídia comercial –, a lenda de que a EBC era "a TV do PT" e, depois, "a TV da Dilma". Temer, por exemplo, descaracterizou a EBC, extinguindo um órgão democrático e plural, o Conselho Curador. Gedel Vieira quis acabar com a EBC, mas antes disso o escândalo do apartamento recheado com 52 milhões de dólares acabou com ele.

Promessa de campanha, ou melhor, implicância, Bolsonaro adiantou, ainda nas conversas do condomínio na Barra da Tijuca que iria acabar (disse um palavrão) com a EBC. Pensando de outra forma, irá privatizar um embrião do que poderia vir a ser num futuro algo nem estatal, nem governamental, nem comercial, mas uma empresa brasileira de comunicação, da sociedade e a serviço da sociedade.

Pergunta? Será a EBC que, uma vez privatizada irá produzir a Voz do Brasil? Que irá cobrir todas as notícias do Estado e do Governo Federal e irá acompanhá-lo em todas as viagens? E que versão dos fatos do Estado e por meio de um serviço público será transmitida ao cidadãos e contribuintes brasileiros? As versões de um órgão chamado de "mídia em meu favor"? Com um dirigente, como é o caso, agora, do recém recriado Ministério das Comunicações, amigo pessoal tirado diretamente do miolo do Centrão? Será que Bolsonaro acha que a BBC de Londres é comunista? Se não, pare, pense e não faça mais uma loucura.

Sem BBC, sem EBC, o público midiático brasileiro estará órfão não somente da TV Brasil, da Agência Brasil e de oito emissoras de rádio à mercê do que a mídia comercial brasileira oferece: um pouco de jornalismo; quase nada de educação e cultura; e muito, mas, muito mesmo, enlatados e besteirol. E com o nome de Bolsonaro num triste parágrafo da história da radiodifusão brasileira: o homem que acabou com a EBC, quando ela era, ainda, uma promessa de que em algum dia o Brasil teria a sua BBC, aquela do Discurso do Rei, nome de um filme, muito bom, recomendo.

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