"A vida é de quem se atreve a viver".


Darcy Ribeiro pensou o Brasil como ninguém.O país como está sente sua falta
A falta que faz um Darcy Ribeiro

Romário Schettino –

Acabo de ver um documentário sobre a vida de um brasileiro chamado Darcy Ribeiro. Não posso deixar de mencionar seu nome sem sentir certa amargura diante de tanta iniquidade, sordidez, vilania, canalhice, infâmia, que tomaram conta da política nacional nos últimos dois anos e meio.

Darcy era a fina flor do humanismo, um nacionalista que entendeu a alma do povo brasileiro, suas origens e seu destino. Não só na teoria, mas, sobretudo, na prática.

Darcy Ribeiro era antropólogo, escritor, político, e passou sua vida a serviço das causas populares e dos indígenas. No Senado, seu último cargo público, antes de morrer de câncer no pulmão aos 74 anos, pensava o Brasil à frente de seu tempo. Dessa forma defendeu a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional por entender que era necessário dar oportunidades iguais aos mais pobres. Com este mesmo espírito, trabalhou com Brizola na instituição dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) quando foi vice-governador do Rio de Janeiro, hoje irresponsavelmente abandonados. Darcy dizia que a crise na educação no Brasil não é uma crise, "é um projeto político" das elites.

O mineiro de Montes Claros defendeu os índios com a fundação do Museu do Índio e na criação do Parque Nacional do Xingu. Como professor participou, junto com Anísio Teixeira, da criação da Universidade de Brasília. Darcy viveu pensando e buscando soluções para o Brasil. Morreu frustrado, mas consciente de que essa tarefa não pertencia somente a ele.

Trabalhista de raiz, foi ministro da Educação e chefe da Casa Civil do governo João Goulart. Resistiu o quanto pôde para entregar as chaves do Palácio do Planalto aos golpistas de 64. Com o golpe militar exilou-se no Uruguai, no Peru e no Chile onde prestou relevantes assessorias na área da educação. Antes da anistia estava na França, onde descobriu que tinha câncer e perdeu um dos pulmões.

Com a abertura política, voltou ao Brasil para fundar o PDT com seu antigo parceiro Leonel Brizola. O documentário de Maria Maia é rico em detalhes sobre essa trajetória.

Com tantos nomes importantes na história brasileira, como Darcy Ribeiro, é inacreditável que estejamos hoje nas mãos de pessoas desqualificadas como Jair Bolsonaro e sua turma de negacionistas, terraplanistas, militares entreguistas e corruptos de toda espécie.

As baixarias que somos obrigados a ouvir todos os dias na imprensa e nas redes sociais são de dar vergonha. Somos insultados insistentemente.

As elites brasileiras, responsáveis pelo desastre em que nos meteram ao apoiar e eleger o protoditador Bolsonaro deveriam ler pelo menos o último livro de Darcy: O Povo Brasileiro – a formação e o sentido do Brasil. Quem sabe aprendem alguma coisa e deem sentido ao fato de terem nascido em território tão rico em diversidade e cultura.

Darcy, um Brasileiro, da cineasta Maria Maia, é uma produção da TV Senado, e será exibido amanhã (8/8), no canal do Cine TVT no Youtube, às 14h. Matéria da Mostra Maria Maia pode ser lida aqui.

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