Romário Schettino –
Que político existe hoje no Brasil que seja capaz de falar por mais de duas horas e meia – entre discurso e entrevista coletiva à imprensa – e atrair tantas atenções? Lula é o único. Sua retórica, insuperável. Lula pautou a imprensa nacional e internacional. Falou como uma pessoa renovada, tranquila, impactante.
Não percamos tempo em comparar Lula com Bolsonaro, um beócio de carteirinha, incapaz de juntar duas frases sem dar um coice na língua e outro em seus interlocutores.
O STF foi obrigado a reconhecer que Lula estava certo desde o início, há cinco anos, quando dizia que a República de Curitiba não tinha competência para julgá-lo. Gilmar Mendes defendeu a suspeição de Sérgio Moro como juiz do processo do tríplex de Guarujá, e um dos motivos foi o fato de Moro ter agido politicamente para se beneficiar com o cargo de ministro da Justiça condenando Lula ao arrepio da lei e criminosamente.
Lula deu uma aula de estadista, experiente e capaz de transformar os direitos do povo em esperança. Não se esqueceu de nada. A começar pelo lançamento de uma campanha em favor da vacina contra o coronavírus. Até cobrou a ausência do Zé Gotinha, que Bolsonaro demitiu como se fosse coisa do PT, quando o personagem, suprapartidário, veio lá do governo Sarney. Lula chamou Bolsonaro de imbecil por não saber como combater a pandemia do coronavírus
Lula falou de economia, defendeu o patrimônio nacional e criticou a fome de privatização de Paulo Guedes, que chamou de entreguista a serviço dos interesses dos Estados Unidos.
Mas o mais importante foram os sinais políticos para 2022. Embora não tenha dito claramente que é candidato, o ex-presidente deu a entender que está aberto a todas as possibilidades, inclusive a de ser candidato da centro-esquerda. De qualquer maneira, candidato ou não, a definição passará por ele.
Por isso, Ciro Gomes perde tempo atacando Lula quando diz: “Posso até acreditar na inocência do Lula, mas duvido de sua honestidade”. Ao ser perguntado sobre o que achava da declaração de Ciro, Lula disse: “Ciro até hoje não aprendeu a respeitar as pessoas. Se continuar assim, quando chegar aos 70 anos, não terá mais como se corrigir”.
O chamado Centro ainda não se manifestou sobre a liberação dos direitos políticos de Lula. Todos esperam novos sinais, mas nada irá adiante sem um encontro prévio do campo progressista (PT, PCdoB, PSOL, PSB, REDE e PDT).
Para derrotar Bolsonaro hoje, dono do cofre, é preciso contar com alguns setores do MDB, PSDB, DEM e outros partidos menores. E a capacidade de costurar essa colcha de retalhos é do Lula.