Romário Schettino –
Brasília - O secretário de Cultura do DF, Adão Cândido, abriu nova frente de conflito em sua área de ação. Desta vez, com a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro. Por meio da Portaria nº 72, Adão criou um Conselho Curatorial para definir a pauta da orquestra composto,em sua maioria, por pessoas alheias ao trabalho dos músicos, apenas para retirar poder de decisão do maestro Claudio Cohen. É o que se deduz.
Com essa decisão, atropelou o Regimento Interno da Secretaria e praticou vício de competência. Improbidade administrativa, aliás, muito comum na gestão do chefe da pasta.
Adão, certamente, desconhece o trabalho de oito anos do maestro à frente da orquestra, sem orçamento. Contando apenas com parcerias, Cohen tem feito um trabalho digno e de alto nível, reconhecido por todos que militam nessa área.
Segundo a portaria, o conselho deve ser formado por cinco pessoas: um representante da UnB, um representante da Escola de Música (que não tem nenhuma ligação com o que faz a orquestra), dois representantes da sociedade civil e um representante da orquestra.
O pior é que a orquestra não foi consultada sobre quem comporia esse conselho e a spalla acabou por ser nomeanda. Além dela, uma servidora que está em estágio probatório e um diplomata que nunca foi aos concertos.
Os músicos, diga-se, não são contra o conselho, apenas acham ser descabido instituí-lo, dessa forma, no momento em que a orquestra não tem sala para ensaios, não tem orçamento, não tem teatro. Enfim, um conselho(*) para gerir o quê?
Outro ponto a destacar é que os outros conselhos desse tipo existem para sugerir e ajudar a achar soluções. Esse delibera e impõe. Muito diferente do que ocorre em qualquer orquestra do mundo, em que a programação está a cargo do diretor artístico, que é o maestro. Uma vez estabelecida a programação, submete-se ao conselho para fazer sugestões que sejam melhores para a sociedade. Nesse caso, os conselheiros do DF querem fazer reuniões sem a presença do maestro e decidirem como ele deve fazer o seu trabalho. Pretendem, assim, instalar um soviete dentro da orquestra.
A mais incrível decisão do fatídico conselho foi cancelar a participação da OSTNCS no 50º Festival de Campos do Jordão (SP - de 29/6 a 28/7) - que este ano homenageia os 100 anos do compositor Claudio Santoro, fundador da orquestra e do Departamento de Música da UnB.
Devem achar que é melhor financiar o carnaval da Vila Isabel. Só pode ser.
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(*) Composição do Conselho:
I - Pela sociedade civil: Larissa Natalia Ferreira de Mattos (funcionária da Secretaria) e Gustavo de Sá (diplomata).
II - Pela Universidade de Brasília: Ricardo Dourado Freire.
III - Pela Escola de Música de Brasília: Davson de Souza.
IV - Pela Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional Cláudio Santoro: Lilian Raiol de Oliveira.