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Governador Ibaneis Rocha assina convênio com a Vila Isabel para o carnaval 2020. Nada ainda sobre a reforma do Teatro Nacional. Secretário demite cinco da gestão do FAC. E mais: Aruc protesta.
GDF banca: Brasília será tema da Vila Isabel em 2020

Romário Schettino –

Brasília - Enquanto brigam os artistas e produtores do Distrito Federal pela manutenção das verbas do Fundo de Apoio à Cultura (FAC), única fonte efetiva de incentivo à produção cultural da cidade, o governador Ibaneis Rocha e seu secretário de Cultura, Adão Cândido, sonham com o desfile da Marquês de Sapucaí em 2020, quando Brasília será tema do samba-enredo da Vila Isabel.

Ao mesmo tempo, o Diário Oficial do DF publica a exoneração súbita de cinco funcionários ligados à gestão do FAC e informa que foram gastos R$ 14.600 com passagens aéreas e R$ 7.800 com diárias para os ilustres carnavalescos cariocas convidados pelo governador para a assinatura de um termo de cooperação.

Entre os demitidos, sem nenhum aviso prévio, estão: José Carlos Prestes da Rocha (subsecretário de Fomento), Roberto Chaves de Aguiar, Alberto Peres Neto, João Roberto de Oliveira Moro (este assumiu o lugar de José Carlos Prestes) e Amélia Mendes Rabelo (assessora administrativa). Fontes da Secult dizem que eles foram demitidos por discordarem da atual política de incentivos do secretário Adão Cândido.

Mas no site da Agência Brasília, órgão oficial do GDF, é só festa: “Somos todos Vila Isabel” e fotos do governador rodeado de seus novos amigos cariocas. A matéria da Agência Brasília, assinada pelo jornalista Hédio Ferreira Júnior, ressalta que “os traços ousados da arquitetura de Oscar Niemeyer na capital do Brasil criada por Juscelino Kubitschek serão tema do samba enredo da Unidos de Vila Isabel em 2020, ano em que Brasília completa 60 anos”.

No ano em que Brasília completa 60 anos, o grêmio recreativo campeão do grupo especial do Carnaval do Rio de Janeiro em 1988, 2006 e 2013 levará ao sambódromo da Marquês de Sapucaí uma homenagem ao centro político e arquitetônico do país, Patrimônio Cultural da Humanidade.

A matéria do GDF afirma que tanto o samba – que é a parte musical – quanto o enredo – que conta a história da cidade – levarão a assinatura do sambista Martinho da Vila. Será isso mesmo? A conferir.

Nesta terça-feira (21/5), uma delegação da escola carioca esteve reunida com o governador Ibaneis Rocha, no Palácio do Buriti. Um termo de cooperação entre o Governo do Distrito Federal (GDF) e a Unidos de Vila Isabel foi assinado para a promoção de Brasília no maior Carnaval do mundo.

O lançamento oficial de Brasília como tema do samba enredo da Vila Isabel está marcado para 13 de julho, na quadra da agremiação, no Rio de Janeiro. Para a reforma do Teatro Nacional, nada até agora, só a ânsia de tirar o dinheiro que tem no FAC.

Parceria

A matéria da Agência Brasília informa que “o GDF ajudará a agremiação na captação de recursos para financiamento do Carnaval por meio da Lei Rouanet. Pela ferramenta de fomento à cultura no país, empresas e pessoas físicas podem patrocinar espetáculos – exposições, shows, livros, museus, galerias e várias outras formas de expressão cultural – e abater o valor total ou parcial do apoio do Imposto de Renda”.

Em contrapartida, diz o GDF, “a Vila Isabel promoverá ações sociais de formação das escolas de samba do Distrito Federal. Liderados pela diretora de Marketing Delma Barbosa, palestras e oficinas serão feitas na preparação de profissionais e na transferência de tecnologia, além de planejamento”. Segundo a experiente Delma Barbosa, “o que move o Carnaval é a paixão. E há paixão no brasiliense. Vamos ajudar a reacender essa chama que mantemos acesa por todos esses anos no Carnaval do Rio”.

Visibilidade

Participaram do encontro com o governador os secretários de Cultura, Adão Cândido; e de Esporte e Lazer, Leandro Cruz, além do presidente-executivo da Vila Isabel, Fernando Fernandes, e do carnavalesco Edson Pereira, responsável pela estrutura alegórica do desfile. “Vamos falar de um menino chamado Brasil que cresce e se transforma, com todos os brasileiros, na capital da esperança. Será algo bem lúdico”, disse Edson à agência Brasília.

De acordo com o secretário Adão Cândido, a parceria com a Vila Isabel não será pontual, mas tem o propósito de ser estendida por todo o mandato. “A reestruturação do Carnaval das escolas de samba em Brasília é incipiente e não se promove em poucos meses”. A proposta do GDF é incentivar a volta dos desfiles na cidade. O que o secretário Adão, talvez desconheça, é que a ARUC já conta com parceria da Escola de Samba Portela.

O protesto da Aruc

A Diretoria da Aruc (Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro), a mais antiga Escola de Samba de Brasília, emitiu nota oficial protestando contra a marginalização da entidade no processo de assinatura do convênio com a Vila Isabel. O site de notícias Metrópoles informa que Dilson Manoel da Fonseca, presidente da União das Escolas de Samba de Brasília (Uniesb) foi convidado para ser um dos signatários do acordo. Segundo o site, Dilson espera que qualquer oferta feita pelo Buriti aos carnavalescos cariocas seja estendida às escolas do DF. É o mínimo que se espera.

Eis a íntegra da nota oficial da ARUC:

"A Diretoria da ARUC estranha a ausência das escolas de samba de Brasília na solenidade de assinatura do convênio do GDF com a Unidos de Vila Isabel, com vistas ao Carnaval de 2020, para a qual não foram convidadas.

Mais do que isso, a ARUC estranha o fato das escolas de samba de Brasília e a própria Uniesbe terem sido totalmente marginalizadas desse processo, não tendo sido consultadas ou sequer informadas do projeto, ao contrário do que aconteceu em 2010, nos 50 anos de Brasília, quando a cidade foi enredo da Beija-Flor de Nilópolis e as escolas de samba de Brasília participaram de uma Comissão, com outros segmentos do governo e da área cultural de Brasília, que acompanhou todo o processo, inclusive com visitas periódicas à Beija-Flor e com a realização de uma eliminatória de samba-enredo em Brasília, na ARUC, da qual participaram compositores da cidade, classificando três sambas para participar da disputa na quadra da Beija-Flor.

A marginalização das escolas de samba de Brasília desse processo agora com a Unidos de Vila Isabel é um desprestígio para as entidades carnavalescas da cidade.

A ARUC, na condição de mais antiga escola de samba de Brasília, de maior campeã do Carnaval da cidade e de Patrimônio Cultural Imaterial do DF estranha, também, a declaração do Secretário de Cultura, Adão Cândido, de que a reestruturação das escolas de samba em Brasília é incipiente, e reafirma que, mesmo sem a realização do desfile das escolas de samba nos últimos cinco anos, têm feito sua parte para manter viva a bandeira do samba e do Carnaval, mesmo sem apoio do GDF e da Secretaria de Cultura, com atividades esportivas, culturais, carnavalescas e comunitárias, de janeiro a janeiro, e espera ser consultada previamente sobre a participação da Vila Isabel na organização do Carnaval de Brasília.

Nós, mais do que ninguém, conhecemos os problemas, as dificuldades e as necessidades das escolas de samba de Brasília, achamos importante o intercâmbio com as escolas de samba do Rio de Janeiro, mas não abrimos mão de participar ativa e diretamente desse processo de reconstrução do Carnaval de Brasília.

Queremos ser parceiros nesse processo porque temos certeza de que temos contribuições importantes a dar, com base na nossa experiência e nos nossos 58 anos de história, onde sempre fizemos parcerias e intercâmbios com nossas co-irmãs cariocas.

Não podemos e não aceitamos ser colocados à margem desse processo em respeito à nossa história.

Brasília, 21 de maio de 2019”.

Assina: Moacyr Oliveira Filho - Presidente da ARUC

Projeto de Decreto Legislativo

A votação do PDL, que revoga o ato do secretário de Cultura cancelando o FAC 2018, e que deveria ser realizada hoje (21/5), na Câmara Legislativa, foi adiada até que se consiga maioria para aprova-lo. “A nova data depende da audiência de conciliação”, dizem os envolvidos nesse debate. Enquanto isso, o suspense continua na vida cultural da cidade.

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