Angélica Torres –
Não é uma inverdade afirmar que o PT não conseguiu se manter como o partido dos sonhos de muitos que apostaram alto nessa esperança. Mas são também muitas as condicionantes que influenciaram esse quadro - o que não é o mote deste artigo.
Indo sem rodeios ao que interessa, é necessário, sobretudo, ressaltar o que outros muitos já analisaram, mas que reforço, ou lembro ou alerto ao meu modo, sem me arvorar em juiz de acusações. Apenas com noção de justiça cidadã.
Pra começo de conversa, além de ter as maiores condições para frear a onda perigosa que se aproxima, o PT detém o direito de, no mínimo, reaver os dois anos do mandato surrupiado de Dilma Rousseff, para terminar o que não puderam - e que era não apenas um seu direito. Era obrigação dela, para com seus eleitores, completar o trabalho.
Eu que não sou filiada, mas votei em Dilma, sempre me indignei, perplexa, com o dar de ombros a esse direito legítimo, não pelo óbvio lado da direita, mas de esquerdas que também a repudiava e que até hoje a acusa e recrimina o partido por todos os males despejados sobre o país.
Se nada provaram contra ela e Lula, então, que voltem ao Palácio do Planalto. Só que nem assim serão compensados. Continuarão lesados, porque, no caso de o partido ser reeleito para a Presidência, terão no fim das contas apenas dois anos para tentar encarrilhar o Brasil de novo, mas agora inteiramente destroçado, no caminho que vinha sendo construído.
Ou seja, foram e continuam injustiçados pela direita e também pelos das esquerdas que lhes torcem o nariz, insistindo na ignorância, ou no descaso, a essa simples mas real aritmética.
Não parece nada digno aproveitar a onda golpista e reforçar a barbaridade cometida contra eles e contra o povo brasileiro - sem falar em Lula, perversamente engaiolado -, sejam quais forem as críticas a seus governos (legitimados nas urnas, lembram?).
Seria também arrogante não admitir que o PT vem se mostrando mais poderoso em dar a volta por cima do que qualquer um de nós poderia supor, com tanta lambada que levou, que ainda leva e que sabe que continuará levando. Isso não significa pouco.
É o partido mais forte e coeso que continua a existir no Brasil, com todos os passos em falso que deu e os defeitos que naturalmente tem, mas que a experiência os fez visíveis e o bom senso e a responsabilidade devem impedir que se repitam e se sedimentem.
Quem não erra? Quem não tem defeitos? Quem não deve, não pode, ter o direito e o dever de corrigi-los?
Além do que, considerando a atual realidade, é palpável que Fernando Haddad e Manuela d'Ávila representem o novo e não só nas caras jovens e bonitas de ambos, mas na aura transparente, em seus firmes, inteligentes, discursos humanistas, no estilo que acenam como irão governar.
E mais: rodeados pelos bons candidatos dos demais partidos à esquerda, que vão se unir na hora H, serão depois convocados a participar da reconstrução do país. Ele, Haddad, já anunciou essa sua disposição.
Isso não é uma bagatela. Significa muita coisa e mais ainda. Significa fazer justiça com união de forças, ainda que tardia. Significa futuro. Felizmente agora com muito mais conhecimento de causa e efeitos.
Oxalá!