"A vida é de quem se atreve a viver".


Fernanda Cabral lança seu CD "Tatuagem Zen" amanhã, quarta-feira (23/10), às 21h, no Clube do Choro de Brasília - Eixo Monumental. (Foto: Marcio Scavone)
Fernanda Cabral: uma estrela no horizonte

Angélica Torres –

Após ciganear pelo mundo a partir da Espanha, onde viveu por 15 anos, Fernanda Cabral parece estar convicta de sua volta ao Cerrado e faz questão de afirmar essa decisão de filha pródiga em Tatuagem Zen. Neste segundo CD, também autoral, a única das canções cuja letra ela assina sozinha é justamente “Cerrado”, em que canta “pra você todo o meu canto faço”. Tatuagem Zen dá-se a entender, portanto, como uma declaração de amor a Brasília.

Fernanda Cabral compõe melodias, é instrumentista versada em violão, banjo, percussão e teclados, faz arranjos para cordas e é intérprete de seu próprio repertório – além de ser professora de canto, especialista em musicoterapia e atriz. Todo esse cabedal posto numa obstinada entrega de lealdade e profissionalismo para com a música vem lhe atraindo o reconhecimento de famosos da área.

Em Praianos, seu primeiro CD também inteiramente autoral e ainda com uma asa em Madri e outra em São Paulo, ela recebeu a benção de Chico César como parceiro. É dele a letra da canção-tema, que cantam juntos, e também a de “Hora H dia D”. No novo disco as parcerias cresceram e ela tem Ney Matogrosso, Fernando Brant e novamente Chico César abrilhantando o seu trabalho.

O diferencial entre os dois CDs é que Tatuagem Zen inspira-se na poesia. São parceiros seus os poetas Lau Siqueira, Cássia Janeiro, Paula Calaes e o espanhol Pablo Guerrero, “além dos que são chamados de letristas, mas que para mim também são poetas, como Chico César, Fernando Brant, Makely Ka e Juliano Holanda”, ela faz questão de enfatizar.

Com a cineasta Elisa Cabral, Fernanda assina a parceria de “Desenho do Sonho”. São de ambas a melodia e a letra, em que expressam o amor entre elas em dupla via: “Brisa ou vento na areia/traça esse ponto distante/une esse canto de encontro/do teu sorriso ao meu”. Elisa Cabral é mãe de Fernanda e vive em João Pessoa.

A canção “Pássaro”, ponto alto do CD, é uma soma certeira do poema de Chico César e melodia de Fernanda, com as vozes dela e de Ney Matogrosso em sequência. O resultado desse duo, aliás, foi chamado por César de “um casamento tímbrico”. A primeira vez que se ouve a canção, fica-se de fato sem saber quem dos dois faz os dois solos da faixa.

Tatuagem Zen distribui baladas que espelham coerência entre equilíbrio e suavidade da persona de Fernanda, além de dois baiões e um ijexá (forró), este em parceria com o também brasiliense Alberto Salgado (prêmio da Música Brasileira Edição 2017). A única melodia não assinada por ela cabe a Leo Minax, seu parceiro também no CD anterior. A cadência é um destaque em seu trabalho, bem como o cuidado com a escolha do elenco de músicos talentosos que a rodeiam.

Evoluções

Conheci Fernanda Cabral quando ela ainda vivia em Madri e lá pude assistir na virada do milênio a um seu recital. No repertório, canções famosas da MPB e ela à moda do João, sentada num banquinho com um violão, no palco de um bar repleto de moças e rapazes. Eles de olhos grudados em sua figura longilínea, os longos cabelos negros, o estilo hippie chique, o modo recatado de se portar, a voz quase tímida, sem grandes pretensões como cantora, e todos a aplaudindo calorosamente davam a perceber o potencial da jovem musicista, que logo depois se lançaria em carreira internacional, afirmando-se como compositora.

A evolução que ela vem conquistando passo a passo mostra-se no novo CD, produzido por Sacha Ambach: Tatuagem Zen sai com o selo da gravadora de Ney Matogrosso, que se encantou com a magia da origem da canção “Pássaro”. Relato aqui. Fernanda subiu até o alto de um morro em Catolé do Rocha, no final de um curso de teatro que ministrou para adolescentes do Instituto Cultural Casa de Béradêro.

A tarde caía sobre a bela paisagem da cidadezinha paraibana quando, de súbito, ela avistou uma águia voando em sua direção. O pássaro contornou-a e rumou de volta à mesma direção de onde tinha vindo, mas logo retornou fazendo o mesmo trajeto e passando rente a ela, as duas se olhando em mútua cumplicidade. Ao saber da cena, Chico César escreveu o poema e o mandou para Fernanda, que o musicou de um fôlego só.

Com o ingresso da voz de Matogrosso nesse enredo, “Pássaro” ganhou ainda mais ares de xamanismo poético, que calha muito bem com o clima de condão e telúrico do CD – até porque a letra da canção Tatuagem Zen, de autoria de Lau Siqueira, parece espelhar esse misterioso encontro entre a águia e a cantora. O curioso é que ele desconhecia o episódio.

A última faixa também se harmoniza com essa atmosfera: “Floresta Invertida” louva a trama das raízes nas selvas, em letra de Makely Ka. E o disco se encerra com um coro dos Guarani-Kaiowá, povo a quem Fernanda Cabral dedica a canção. Tatuagem Zen será lançado em show no Clube do Choro de Brasília, em 23 de outubro de 2019, com a participação de alguns convidados de sua “cantautora”. Boa sorte a ela e ao seu trabalho.

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(*) Resenha publicada originalmente no site:

www.fernandacabral.com

Clip Roda Menino:

https://www.youtube.com/watch?v=Kn_Q28qU930

Mais de Praianos ouça em:

https://soundcloud.com/fernanda-cabral

 

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