"A vida é de quem se atreve a viver".


Maria Lúcia Verdi: "Bem-vindo o aquém desse olhar de Bassul, apenas a querer desnudar, tocar (como um vento) o osso-espírito da coisa-cidade".
O quase nada de Bassul

Maria Lúcia Verdi –

Só depois de haver conhecido a superfície das coisas é que se pode proceder à busca daquilo que está embaixo. Mas a superfície das coisas é inexaurível...” (Ítalo Calvino)

Sei, imagino saber o que verei. Mas não. Surpresas alimentam. A exposição de José Roberto Bassul vai além ao buscar o aquém. Nomeia-se sobre o nada. O concreto, a estrutura, o corpo arquitetónico quer ser quase nada, translúcido ou pura linha, radiografia ao avesso da alma das construções da cidade que, aos sessenta anos, nos coloca dúvidas sobre seu futuro.

Pelo olhar de Bassul, novas cidades invisíveis de Ítalo Calvino, como Marco Polo do Planalto a fixar o que viu para nossos olhares atônitos.

Onde viu, em que reino? O arquiteto-fotógrafo, como o desbravador-narrador Marco Polo quer nos contar o que vê, o além do que está aí. E nosso olhar recebe, percorre, vaga. Maravilha vagar na calma desses recortes emoldurados quando tudo em torno nos diz permaneça!

A pergunta Como ele faz ecoa. Apenas superexposição? Apenas a intervenção na quantidade de luz faz isto, faz aquilo que vemos ali, aquela mágica geométrica, abstrata? O enigma da coisa, a ambiguidade do ver, a fantasia (o fantasma) do invisível no visível. A transcendência do mistério (o além) também pode constituir-se de concreto, ferro, vidro, alumínio (o aquém).

Escreve Marília Panitz, a Curadora: “Não mais ancorado na prospecção do desenho, este ato de exposição retrospectiva (como citação) gera a figura livre das marcas da concretude da vida na cidade. É, portanto, fantasmático, como que formado no fundo do olho, ou mais além dele, no espaço aberto da imagem onírica, paradoxal, dentro da configuração limpa, equilibrada e geométrica que caracteriza as fotos do artista.”

O quase nada é um aquém. Bem-vindo o aquém desse olhar de Bassul, apenas a querer desnudar, tocar (como um vento) o osso-espírito da coisa-cidade. Cidade mãe, cidade algoz, alegria e dor, berço e túmulo.

___________________

Serviço:
sobre quase nada
Local
: Galeria Referência
Endereço: SCLN 202, Bloco B, Loja 11 SS - Asa Norte, Brasília – DF.
Visitação: até 11 de abril, de segunda a sexta, de 10h às 19h. Aos sábados, das 10h às 15h.

Você não tem direito de postar comentários

Destaques

Mais Artigos