Sandra Crespo -
Fui ver o show Bossa Nova In Concert ontem (17/2), e vou falar primeiro do que eu não gostei - porque, em se tratando de bossa nova, o que é ruim é que é notícia. (E eu acho que ainda sou jornalista).
O auditório sofrível do Centro de Convenções de Brasília, que me faz arder de saudade da sala Villa-Lobos, passaria batido, não fosse a moça loura altíssima da minha frente.
Que, além de comprida como um totem entre euzinha (1,56m) e o palco, ainda cismou que era cineasta de smartphone.
A moça apontou estrategicamente seu smart em direção ao palco desde os primeiros acordes, e se balançava, cabeleireira loura pra lá e pra cá... tentei pensar na garota de Ipanema, mas que nada...
Mudamos de lugar, porém, os problemas continuaram: Paula Morelenbaum desafinou no primeiro verso de Águas de Março.
O que aconteceu com a voz de Paula Morelenbaum? Acho que acabou, infelizmente! E o figurino descambou junto.
Parece que ela escolheu o vestido mais feio do seu guarda-roupa para se apresentar em Brasília.
Não é por nada não, mas a Paula Morelenbaum parecia estar cumprindo uma missão burocrática, fazia umas caras e bocas, dava uns gritinhos tão estranhos... (Tom deve ter se revirado no túmulo, cala-te boca.)
Felizmente o nível subiu bastante depois, quando veio ao palco Roberto Menescal. Na sequência, as cantoras de verdade Wanda Sá e Roberta Sá, além de Leila Pinheiro, seguraram bem as pontas.
Mas o ponto alto - quem diria! - não foi nem quando Menescal acompanhou a Wanda Sá em Vagamente, nem quando Roberta cantou Garota de Ipanema.
O ápice ficou por conta de Ivan Lins! Que, ainda muy guapo, era o único realmente emocionado com o show.
E deu um recado, com voz embargada: a música brasileira de qualidade não mais tem espaço "nos meios de comunicação abertos", palavras dele.
Ivan Lins acrescentou que, "sem falar na política", as pessoas que ali estavam eram "viúvas" da música boa que se fez no Brasil.
Eu senti a amargura dele. E a galera também, que aplaudiu aflita. Mas também me lembrei do que disse Chico Buarque a respeito disso.
No filme "Chico, Artista Brasileiro", de Miguel Faria Jr., ele disse mais ou menos que não achava que a música boa tinha acabado. Porque o Brasil dos anos 50 era elitista, e assim a elite impunha sua cultura para o povo.
Agora, disse Chico rindo com gosto, A gente pode achar brega e tal, mas o povo faz a sua música, seja funk, sertanejo, pagode...E essa é a música "boa" agora.
E eu vou pensando nessas coisas, remoendo, porque é isto o que realmente importa: o que fica do Brasil para cada um de nós.
Mas... Se é tarde, me perdoa...