Sandra Crespo -
Numa loja de Copacabana, a moça me pergunta se eu estou animada para as Olimpíadas. Não sou amante de esportes, respondo, mas acho legal o movimento para a cidade. Sem contar que houve algum legado, como a expansão do metrô, o VLT...
"VLT? Ih! Aquele que vai do nada para lugar nenhum?", diz a moça. "Nada", no caso, é o aeroporto Santos Dumont. E "lugar nenhum" é a rodoviária Novo Rio. O VLT passa por várias estações de metrô e ainda pela praça Mauá, onde há o MAR e o Museu do Amanhã.
Pois bem, além desses argumentos, ainda conto a ela que peguei duas vezes o VLT e ele estava lotado de trabalhadores e visitantes (Gente que gosta de ficar indo e voltando do nada para lugar nenhum).
"Inclusive uma senhora me disse que o trajeto do trabalho até sua casa, que era de 45 minutos, passou a ser de 15 minutos", completei.
A moça não se deu por vencida. "Mas eles vão desligar o VLT assim que acabarem as Olimpíadas!"
E o Romário: "Então o povo tem que exigir que continue funcionando."
“Ahhhhh, O jeito mesmo é colocar os índios para governar, não tem jeito”, responde a moça.
Eu tava de bom humor e apenas sorri, fechando a compra. Mas me deu vontade de dizer Faz o seguinte: vota em uns caras bem ordinários para você continuar com muito motivo para reclamar.
Afinal, se o VLT ou o metrô não me beneficiam, o que me importa se melhoram a vida do outro? E, se o mantra é "do nada para lugar nenhum", todos têm que entoá-lo, não é mesmo?
Eu fiquei com um pouco de pena daquela moça. Ela tem uns 20 anos e parece concentrar toda a desilusão do mundo.