Alexandre Ribondi –
Há muitos anos, eu estava num almoço de pessoas elegantes, simpáticas e inteligentes, no Lago Sul, em Brasília. O assunto eram as ditaduras latino-americanas e eu ousei dizer que todas (Chile, Argentina, Uruguai, Brasil) tinham sido igualmente violentas e monstruosas.
Um diplomata francês me olhou com certo desprezo irritado e disse, como quem me manda calar a boca: "Ah, quanto sentimentalismo. O Chile prendeu, torturou e matou muito mais do que o Brasil e portanto vocês, brasileiros, não podem querer se envolver nessa lista".
Depois de um certo silêncio, respondi: "Fui preso e torturado, meus amigos também, alguns foram assassinados. Agora, me olhe nos olhos e me diga outra vez que nossa ditadura foi menos violenta que as outras".
É isso o que acontece quando se discute o Brasil no conforto de sua condição social, ou por saber o que é ditadura apenas de ouvir falar. Numa ditadura, não se discute, com elegância e indiferença, quem vai governar melhor o país. Discute-se como vamos nos livrar dos militares, dos torturadores, dos racistas, da elite bandida.
Vocês, que não viveram a ditadura, e que estão seduzidos por firulas ideológicas, enquanto a direita estrategicamente se organiza em torno de um só candidato, deviam aprender, no corpo e na alma, o que é tomar decisões e fazer escolhas na premência e no horror de um golpe militar, com a polícia à porta.
Deveriam saber o que é ter força ideológica para defender seus irmãos presos e torturados. Deveriam saber que é na união, e não apenas no voto, que se combate o fascismo.
Ponham a mão na consciência e votem com felicidade.