Alexandre Ribondi -
Ou foi em 1970 ou em 1969, e eu entrei, às escondidas, na sala Villa-Lobos inacabada. Tinha arquibancadas, mas ainda não tinha as poltronas. Penumbra no meio da tarde.
No subsolo, escuridão e um delicado barulho de água: diziam que havia uma fonte lá. Ruídos estranhos, rangidos: diziam que era o fantasma de um operário morto na construção.
E tudo ficaria pronto mesmo 10 anos depois. Afinal, a cidade inteira estava sendo construída.
Hoje, o Teatro Nacional está fechado, sem prazo para reabrir. Que o Governo do Distrital tenha deixado estragar o prédio e que tome providências urgentes para recuperá-lo faz parte da histórica incompetência e da ignorância da administração brasileira.
Nossos governantes, salvo poucas exceções, não conseguem entender a importância da cultura e a grandeza de uma obra como o Teatro Nacional. Mas surpreende, e entristece, ver que os brasilienses não sentem falta alguma das salas Villa-Lobos e Martins Pena e não se preocupem com o fato de a Orquestra Sinfônica já não ter sequer endereço fixo: ensaia ora aqui, ora ali.
A burra elite da cidade se diverte, como sempre, com falcatruas de grosso calibre e com telenovelas pífias - não precisa de salas de teatro, já que arte é produto que ela não consome.
E quando consome, é pra ver peçoilas mal feitas, com elenco que estava na última novela: querem saber se o ator é bonito também ao vivo, se a atriz está envelhecendo bem.
A trama da peça, os questionamentos da vida, o deleite diante da beleza não importam.
Esse tipo de público, acomodado em seu conforto, não quer questionar nada, é incapaz de se emocionar com o belo. Enquanto isso, a classe artística do DF se espreme nas outras salas de teatro - mas isso, acredita o GDF, não é problema dele. Isso é problema dos artistas.
Agora, é bom perguntar: quem se envergonha e se sente desprezado ao ver as ruínas do Teatro Nacional? Uma meia dúzia de gatos pingados, que acredita que a arte causa impacto, altera a alma, gera trabalho e magistralmente xinga os poderosos.