"A vida é de quem se atreve a viver".


Pedro Sangeon, criador do personagem Gurulino, recebe solidariedade após denunciar abordagem violenta da polícia contra ele e dois amigos no DF (Foto: Reprodução).
Artistas presos e torturados em delegacia de polícia em Brasília

Alexandre Ribondi –

Com mais de um mês de atraso, Brasília ficou sabendo que o artista plástico Pedro Sangeon, conhecido por seus desenhos da personagem Gurulino espalhados pelos muros da capital da República, havia sido preso enquanto criava mais uma grafitagem. Segundo o relato que ele mesmo fez nas redes sociais (quando conseguiu voltar a tocar no assunto), Sangeon e dois colegas estavam grafitando no Lago Norte (região administrativa do Distrito Federal) quando foram abordados por policiais militares, que os levaram para a 6ª. Delegacia de Polícia, no Paranoá.

Para a polícia, o que aconteceu no dia 28 de junho foi procedimento padrão. Os presos foram interrogados e liberados três horas depois. Para Sangean, foi um inferno. Ele e seus colegas tiveram os documentos e os celulares apreendidos, foram algemados a uma barra de ferro e obrigados a se despirem. A polícia os obrigou a fazer flexões enquanto eram alvo de chacotas e explicações como “Se vocês fossem bolsonaristas, o tratamento ia ser diferente”.  Além disso, foram chamados de comunistas. E tudo isso no mesmo mês em que Pedro Sangeon recebeu homenagem da Secretaria de Cultura do Distrito Federal pela sua importância na cidade. Sintomaticamente, a polícia os prendeu justamente quando escreviam a palavra Democracia.

Vale a pena ressaltar que os policiais, desde sempre, têm obsessão com a nudez - tanto masculina quanto feminina. Trata-se de técnica recorrente, com a intenção de fragilizar e humilhar o preso, além de denotar um erotismo que existe em todo jogo de dominação e poder. Afinal, o que mais explicaria a ordem de se despirem dada aos artistas plásticos apreendidos para “averiguação”? Nesse sentido, seria aconselhável que os policiais envolvidos recebessem atendimento psicológico para ver em que cavernas se escondem os seus desejos.

A denúncia de Sangeon chegou à Câmara Legislativa do DF que está tratando de tomar providências. O deputado Fábio Félix (PSol) anunciou que não se pode permitir “a criminalização da arte de rua”. A esse propósito, é bom acrescentar que nenhuma arte deve ser vista como criminosa ou como manifestação de menor importância, o que vem sistematicamente acontecendo com a presença de Jair Bolsonaro no Palácio do Planalto, de onde diz chefiar a Nação. Seus constantes discursos de rancor e ódio à inteligência, às artes e à intelectualidade servem de base para que as pequenas autoridades, como a polícia civil lotada na delegacia do Paranoá, se sinta munida de poder para agredir e torturar artistas.

A deputada Arlete Sampaio, o deputado Chico Vigilante (ambos do PT) e Fábio Félix enviaram um ofício à Secretaria de Segurança Pública do DF exigindo averiguação. Para Arlete, que se dirigiu à plenária da Câmara Legislativa para denunciar o ocorrido, é “inaceitável que se faça uso da máquina do Estado para constranger pessoas por questões político-partidárias”.

Ela relata também que, nos primeiros momentos, Pedro Sangeon mostrou receio de levar adiante qualquer ação contra a polícia. A deputada relatou que “ele tinha medo de sofrer retaliações e perseguições”. Mesmo assim, foi convencido da importância de se dar continuidade ao caso, porque “poderemos responsabilizar o governo caso ele e seus colegas sofram qualquer perseguição política”.

Os responsáveis pelas agressões, enquanto isso, tentam criar um imbroglio para atravancar o avanço de investigações. A Polícia Militar afirma que efetuou as prisões e levou os detidos para a Delegacia. A partir daí, tudo o que teria acontecido é responsabilidade da Polícia Civil, cujo comando, naturalmente, disse que vai “fazer investigações”. Qualquer cidadão brasileiro já ouviu essa lenga-lenga policialesca antes e ainda ouvirá várias outras vezes. Todos os dias somos informados de novos e absurdos ataques à democracia, à liberdade de expressão no Distrito Federal e em todo o País.

O caso de Pedro Sangeon tem que ser tratado como ameaça à sociedade brasileira. E tem que provocar reação à altura. Ou, então, que nos preparemos para mais um longo período de ditadura subdesenvolvida, humilhante e perigosa.

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