Romário Schettino -
A campanha deslanchada para economizar água no Distrito Federal é digna de registro. Comovente. Até porque não haveria outra maneira de evitar o colapso que se avizinha. Mas, convenhamos, o desprezo, a falta de planejamento sério, o gasto não ético, irresponsável, do dinheiro público são as causas principais de nosso desespero.
Desde que o GDF, junto com o governo de Goiás, colocou recursos e esforços na barragem de Corumbá IV estava previsto que sem a adutora concluída não seria possível resistir à falta de água. Hoje, a previsão é de que a água só chegará a Santa Maria em 2018.
O governo de Goiás não cumpriu sua parte e ninguém foi punido, só o consumidor brasiliense.
A Caesb também não investiu tudo o que tinha que investir a tempo e hora. Os vários governos do DF deixaram rolar e a imprudência tomou conta.
Hoje, somos obrigados a pagar taxa de contingência (a Adasa decidiu suspende-la a partir de junho, até porque sem água não haverá o que cobrar) e correr o risco de ficar sem água porque nem todo mundo tem reservatório suficiente para assegurar o gasto mínimo.
O caos chegou aos restaurantes. Casa cheia e banheiros sem água. Mau cheiro, falta de higiene. O desconforto é enorme. Nem parece a capital do país.
As famílias são orientadas a não lavar banheiro, não lavar roupa, não usar a máquina de lavar louça, não tomar banho de banheira, não lavar o carro, a não fazer nada no dia do rodízio.
A seca deste ano pode ser ainda pior do que a do ano passado. Brasília sem água é o fim do mundo. Aliás, qualquer lugar sem água não está habilitado a ter população de qualquer espécie.
E onde estavam os governos que não cuidaram dessa previsível situação? Não adianta exclamar: Nunca pensei que iria passar por isso!
Estava previsto sim. Os técnicos sabiam que se não fosse feito o tinha que ser feito o resultado era esse mesmo. Grupos Trabalho, criados em convênio com o Banco Mundial, tiveram que ser desfeitos porque o governo de plantão precisava dos cargos de confiança para abrigar aliados políticos. Pura irresponsabilidade com a questão hídrica.
A população colabora, acolhe os avisos e economizam, mas a Caesb sequer consegue estancar os vazamentos que explodem em vários pontos da cidade. O noticiário tem mostrado isso diariamente.
O cidadão está em casa com as torneiras fechadas e os canos da Caesb jorrando água durante dois três dias seguidos.
Que prioridade é essa? A Caesb informa que determinado tipo de vazamento é normal.
O que não é normal é que no meio do racionamento o serviço de reparos demore até três dias para entrar em ação.
Só nos restar esperar que a migração de volta para o litoral não chegue a desequilibrar a exitosa marcha para o Oeste.