Romário Schettino -
A atual crise hídrica do Distrito Federal é também uma histórica crise de gestão e planejamento. A alegada falta de recursos é decorrência do desprezo de diversos governos com essa questão. Apesar da chegada das chuvas a recuperação dos reservatórios levará tempo para voltar à normalidade.
Desde a fundação da cidade sabia-se que com o aumento da população haveria necessidade de prevenir o fornecimento de água. Brasília tinha 140 mil habitantes em 1960. Em 2016 já somos mais de 2,6 milhões de almas sedentas.
A Caesb conta, atualmente, com cinco sistemas produtores (Descoberto, Torto-Santa Maria, Sobradinho-Planaltina, Brazlândia e São Sebastião). Muitos poços artesianos, sob controle (ou não) da Caesb, atendem os condomínios regulares e irregulares.
O legendário Lago São Bartolomeu, previsto para abastecer Brasília, virou uma quimera pela omissão do poder público e pela especulação imobiliária desenfreada, com a participação de militares golpistas de 1964, empresários irresponsáveis e corruptos, parlamentares, juízes e desembargadores.
Em 2001, sob ameaça de falta d´água, o governador Joaquim Roriz anunciou que o Lago Corumbá IV seria a salvação, teríamos água para os próximos 100 anos. Um consórcio foi assinado entre a Caesb, de Brasília, e a Saneago, de Goiás.
Quinze anos depois, chegamos às ameaças de racionamento de hoje e a Estação de Tratamento de Água (ETA) e a adutora de Corumbá IV não ficaram prontas. A Caesb já gastou R$ 280 milhões nessas obras, iniciadas há cinco anos. A promessa é concluir tudo só em 2018.
Enquanto isso, o povo sofre. A ideia para evitar o colapso é implantar rodízio no abastecimento de seis regiões: Brazlândia, Jardim Botânico, Planaltina, São Sebastião, Sobradinho I e Sobradinho II.
O GDF abre campanha educativa para economizar água, especialmente nos prédios públicos, onde há muito desperdício.
Após o rodízio no abastecimento de seis regiões: Brazlândia, Jardim Botânico, Planaltina, São Sebastião, Sobradinho I e II, houve a suspensão da medida. Mas a Caesb não descarta a possibilidade de retomar esse rodízio e até mesmo o racionamento.
Agora, veio o mais grave, o governador Rodrigo Rollemberg (PSB) estuda onerar o consumidor caso os reservatórios do Rio Descoberto e de Santa Maria atinjam 25% de sua capacidade. A ideia é aplicar a tarifa de contingência de até 20%.
A situação é preocupante. A Agência Reguladora de Águas do Distrito Federal (Adasa) anunciou que estão proibidos lavagem de calçada, irrigação paisagística e enchimento de piscinas. Também estão proibidas as torneiras nos postos de gasolina destinadas a encher reservatórios de limpadores de parabrisa dos carros.
Em meio a essa grave crise hídrica ainda tem a execução atabalhoada do projeto da Saída Norte do Plano Piloto, que destruiu nascentes, derrubou centenas de árvores e desprezou as opções para o transporte coletivo, os pedestres e os ciclistas.