"A vida é de quem se atreve a viver".


Geniberto: "Ideias toscas e simplórias, soltas ao vento pelos gurus da campanha servem para uso eleitoral, mas não para governar o Brasil. Um imenso país, situado entre as dez maiores economias mundiais".
O capitão e a esfinge – O elogio da mediocridade

Geniberto Paiva Campos –

As manobras da direita e das mídias contra Lula tornaram possível o impensável: elevar a política encarnada por Bolsonaro ao lugar de solução aceitável para o país”. (*)

A vida nos ensina: os medíocres são imbatíveis. E indestrutíveis. Para os medíocres prevalece a lei do eterno retorno.

Quaisquer que sejam os caminhos assumidos pelo futuro governo do capitão, eleito presidente da República, algumas escolhas para postos chave indicam que a esfinge começa a ser decifrada. E as expectativas não são animadoras.

Sem exagero, poderemos ter em breve o retorno dos Trapalhões (nenhuma ofensa ao grupo do Renato Aragão). Truculentos, estúpidos e violentos.

Evitando, por vários motivos, analisar os recentes e memoráveis acontecimentos do período eleitoral – uma das eleições mais estranhas dos últimos tempos, plena de fraudes e manipulações, vale mais a pena tentar interpretar seus resultados, suas consequências e o que esperar do futuro governo. As urnas falaram e a vitória do capitão é fato consumado.

Mas fica a expectativa que o país tenha eleições livres e limpas no futuro. Com o indispensável apoio das autoridades eleitorais. (Não vale fazer cara de paisagem diante de fraudes e abusos...)

No entanto, o clima eleitoral persiste, causando imensa perplexidade aos brasileiros mais atentos. O novo governo age como se houvesse assumido o poder. E mostra vacilações injustificáveis. Caminha em ziguezague. Seguindo impávido numa direção confusa, num clima de disfarce, como se estivesse a esconder seus verdadeiros objetivos.

Torna-se impossível, até o momento, identificar a face real do governo que assumirá o controle do Executivo do país dentro de poucas semanas. Como se houvesse uma cortina de fumaça entre a população perplexa e seus futuros dirigentes. Para onde caminhará o governo? Para onde caminha o Brasil?

O capitão logo irá comprovar uma obviedade política: nem sempre se governa com as pessoas que ajudaram – e foram até decisivas - na campanha eleitoral.

Ademais, ideias toscas e simplórias não cabem num mundo cada vez mais complexo. Em todas as áreas: economia, educação, cultura, meio ambiente, saúde, relações internacionais. Ideias toscas e simplórias, soltas ao vento pelos gurus da campanha servem para uso eleitoral, mas não para governar o Brasil. Um imenso país, situado entre as dez maiores economias mundiais.

Essa retórica do retrocesso é apenas o improvável manto fantasioso com o qual tentam, inutilmente, fazer o país regredir ao século 19. E o mais importante: essas afirmações tolas e a incontida estupidez vociferadas pelos integrantes da equipe do novo governo não mudam a realidade do país. E muito menos o contexto internacional. Reações intensas já se manifestam em alguns países.

Bom lembrar aos néscios militantes que a campanha eleitoral terminou em outubro passado. E a repetição desses conteúdos “ideológicos” acabam por impacientar, e mesmo irritar, a chamada opinião pública. Que apenas espera que o governo eleito governe. Agindo na busca das soluções dos problemas do país. Que não são poucos.

A agenda do novo governo é a ausência de agenda. Ou seja, o desmonte do país, enquanto Nação. O capitão foi eleito sem defender qualquer tipo de projeto. Foi necessário, apenas, construir e divulgar mal explicada agenda negativa. Conquistou eleitores negando seu adversário, o “lulopetismo”, e se apresentado como alternativa. E não ousou comparecer a nenhum debate para o necessário confronto de ideias com os adversários.

A partir de janeiro de 2019, o Brasil estará sob o comando de um grupo místico. Salvacionistas demiúrgicos. Livres pensadores que interpretam - e quando necessário reescrevem – a História, conforme as suas necessidades e absurdas justificativas. Sem a mínima autocrítica ou receio do ridículo.

Afinal, eles contam com o apoio, ou a complacência, da mídia e seus jornalistas e consultores em permanente disponibilidade.

O problema é que a narrativa midiática ou a comunicação eletrônica, mesmo (bem) manipuladas, não serão suficientes para suprir a dura realidade dos fatos. Aguardemos o desenrolar do pesadelo que nos foi imposto.

E já se torna perceptível a preocupação dos democratas de raiz na formação de uma frente de coalização ou  resistência ao governo dos medíocres.

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(*) Renaud Lambert – Le Monde Diplomatique Brasil – novembro, 2018.

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