"A vida é de quem se atreve a viver".


Geniberto: "As próximas eleições gerais de outubro constituirão um teste importante para a democracia do país".
A tolice dos ideólogos neoliberais

Geniberto Paiva Campos (*) -

Só os tolos acreditam na força e no poder eternos da chamada mídia hegemônica.

Os tolos e os ideólogos, incondicionais adeptos e defensores do deus mercado.

Em tempos mais antigos, “-Deu no New York Times” tornou-se a confirmação da veracidade de qualquer notícia. Se o jornal NYT não publicou, não aconteceu... O rádio e a televisão aumentaram exponencialmente o poder de manipulação da mídia.

O passo seguinte foi a adoção da propaganda política, a qual propiciou aos órgãos noticiosos um enorme poder, capaz de influenciar decisões as mais diversas do aparelho estatal. Uma característica nunca sequer imaginada. Nascia assim o chamado “quarto poder”. Organizado em redes, sua influência e força decisória cresceu exponencialmente.

Assim, surgiu e consolidou-se a Rede Globo, a partir de 1964 com o decisivo apoio do regime militar.

O quarto poder “global”, rádio, jornal e TV reinou absoluto por várias décadas. E como esperado sofisticou as suas formas de manipulação e controle da chamada opinião pública.

A informação foi gradativamente transformando-se em propaganda política. Tornou-se incontrastável o poder da chamada mídia hegemônica. Que passou a atuar como partido político, sem o incômodo das eleições periódicas. Fora de qualquer controle. E sem o mínimo compromisso ético.

A mídia fazia e derrubava presidentes. Promovia golpes de estado e assim controlava a vida política dos cidadãos, reduzidos a leitores, ouvintes e telespectadores. Sempre atentos e obedientes.

O fim do regime militar em 1985 propiciou ao país realizar mais uma tentativa de experimentar o retorno cuidadoso à Democracia. E assim evoluímos até o início deste século, quando em 2002 o Partido dos Trabalhadores, não aceito pela elite, ganhou as eleições presidenciais e implementou novas políticas de inclusão social, garantia de direitos trabalhistas, políticas educacionais inovadoras, política externa independente, jamais assimiladas ou permitidas pelos aristocratas medíocres, os donos do poder.

O novo parceiro da mídia

Tornou-se urgente e necessária a busca pelo “Quarto Poder” de novos parceiros que viessem a substituir os militares no processo de intervenção no sistema democrático, desta vez mais elaborado e com disfarces de legalidade.

Os acenos da mídia hegemônica foram atendidos prontamente por importantes segmentos do poder judiciário.

Após a quarta vitória consecutiva do Partido dos Trabalhadores estavam postas as condições para uma nova intervenção na vida democrática do país. A qual vinha sendo urdida desde o processo conhecido como “Mensalão”, no início do primeiro governo trabalhista, em 2003. Quando foi deflagrada a quebra da ordem jurídica e do estado de direito, consolidada com a operação “Lava Jato”, em Curitiba, em 2014.

Com o pretexto de combater e eliminar a corrupção foram admitidas ilegalidades. Novas leis, recém-inventadas, foram aplicadas e direcionadas prioritariamente aos “petistas”. E dessa forma gradativamente extinto o estado de direito. Tudo em nome do combate ao vírus da corrupção. Um mal que atinge seletivamente os políticos progressistas.

Esta nova intervenção, no entanto, tinha características malignas. Desta vez, tratava-se da implantação da ideologia neoliberal. Uma forma grotesca de anticomunismo a qual assumia abertamente a desigualdade social como valor positivo. Chegavam ao poder os novos arianos. Os “supremacistas” financeiros, religiosos fanáticos do mercado. Os novos profetas do apocalipse. Agindo com a certeza dos néscios.

Com seus ideólogos (teólogos?) repetindo, em transe religioso: - “É assim porque tem de ser assim; precisa ser assim! Não há outra saída!” Todos influenciados pela Escola de Chicago. Sem a preocupação de apresentar experiências exitosas da sua ideologia (religião?) mambembe. Valendo lembrar o que fizeram no Chile na década de 1970. Uma ditadura sangrenta, violentíssima em seus métodos. Comandada por um militar sobre o qual pesam acusações de genocídio e conduta desonesta com o dinheiro público. Seria este o melhor exemplo do neoliberalismo econômico?

E a situação atual da Argentina? Como explicar? Qual a herança histórica ou cultural que a ideologia neoliberal tem a mostrar? Ou os seus defensores esperam que o distinto público se ajoelhe em reverência às novidades sem conteúdo? Sem um testemunho, mínimo que seja, de países onde a experiência neoliberal ali aplicada tenha resultado em algo diferente do caos social, semiescravidão e miséria?

O problema é que essa religiosidade econômica do culto ao deus mercado traz graves implicações para o Brasil e para a sua população. Voltaremos à condição de colônia: homo faber? terceirizado; homo sapiens? esqueçam! Seremos uma nação de analfabetos, sem escolas ou universidades (um aviso: a temporada de caça aos reitores continua). A aurora da barbárie já se tornou visível.

Temos de admitir: não houve a necessária, indispensável resistência ao golpe midiático judiciário de 2016 e ao seu retrocesso desumano. As chamadas forças vivas da nação, em sua maioria, se omitiram, aparentemente incapazes de perceber a extensão desse pérfido movimento. E caminharam serenas, como uma boiada em direção ao matadouro.

Partidos políticos, fundamentais no processo de redemocratização, permaneceram alheios, quando não aderentes, à consolidação do golpe.

A mídia eletrônica – um marco de resistência aos bárbaros

A modernidade nos legou um tipo de comunicação rápida, eficiente, direta, com interação efetiva entre o emissor e o receptor das mensagens. Uma conquista definitiva. Uma forma interativa de comunicação que veio para ficar.

A mídia eletrônica tornou-se a voz da nação profunda. E contribuiu decisivamente para que o Brasil não se tornasse um país de tolos, facilmente manipuláveis por um grupo de jornalistas medíocres, a serviço dos seus patrões.

Os blogueiros, com coragem e destemor, com grande competência na utilização dos meios eletrônicos disponíveis, criaram aos poucos o discurso alternativo ao da mídia, outrora hegemônica, com suas mentiras e meias verdades. Formaram um bolsão de resistência, um nicho democrático que mudou a forma de comunicação da nova cidadania.

Poucos brasileiros nos dias atuais se submetem à leitura diária de jornais, à magia da telinha ou ao vozeirão dos locutores e “comentaristas” a disseminar conteúdos “ideológicos” travestidos de notícias e informação.

Estima-se que a tendência mídia impressa é definhar cada vez mais. As formas eletrônicas de comunicação já se tornam prevalentes entre a população jovem.

As eleições e o período pós-eleitoral

As próximas eleições gerais de outubro constituirão um teste importante para a democracia do país. Cujos resultados poderão abrir caminhos para o retorno do Brasil à normalidade institucional. Mas o processo de retomada não se esgota na realização do pleito e nos seus resultados. A luta política continua.

(...) Para revelar que, / Além das desgraças permanentes, / Ainda existe beleza / Ainda existem corações / Para animar a esperança / Tão assassinada / Todos os dias. – O bicho homem sobreviverá!

O homem não é / um projeto falido / apenas adiado” (1)

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(*) Geniberto Paiva Campos, do Instituto Lampião

 

(1) Luis Humberto – arquiteto, fotógrafo e poeta. In “Para Márcia”.

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