"A vida é de quem se atreve a viver".


No SRTVSul a situação das calçadas é essa, imagine nas cidades satélites
Safári Urbano, tropeçando nas (não)calçadas de Brasília

Benny Schvasberg e Claudio Silva(*) -

Um safári nos remete à aventura de exploração de territórios em geral selvagens, cheios de surpresas e perigos. Com esta inspiração aventureira e exploratória o Safári Urbano é a tradução e adaptação de um método desenvolvido na prefeitura de Nova York (EUA) com o objetivo de avaliar o ambiente urbano a partir da experiência do pedestre.

Condições e percepções de segurança, acessibilidade, conectividade e conforto ambiental, dentre outras, são analisadas e comparadas a partir da vivência, observação e registros proporcionados pela caminhada nas calçadas e passeios da cidade.

No início deste ano um grupo de pessoas formado majoritariamente por professores e estudantes universitários, profissionais do poder público e ativistas da mobilidade urbana saiu num Safári experimentando e avaliando os caminhos de pedestres em Brasília.

A coordenação do evento foi da recém-criada organização social de valorização do pedestre, a Associação Andar a Pé – O Movimento da Gente, com apoio do Brasília para as Pessoas, PESUrbanos, UnB e UniCEUB.

A dinâmica de experimentação foi precedida de momentos de preparação em ambiente de auditório e foi organizada em grupos que percorreram cerca de 10km de caminhos, inclusive com simulação em cadeira de rodas, em roteiros da Rodoviária do Plano Piloto à Esplanada dos Ministérios; do Brasília Shopping na W3 Norte, passando pelo Setor Comercial Norte, até a Rodoviária do Plano Piloto.

Depois, equipes saíram do Shopping Pátio Brasil na W3 Sul, passaram pelo Setor Comercial Sul, e foram até a Rodoviária do Plano Piloto; da SQS 202 circularam da passagem subterrânea até a W3 Sul e da W3 Sul até a 702 Sul.

Alguns dos principais resultados da análise nos percursos observados merecem ser destacados, pois são uma amostra dos inúmeros problemas do cotidiano da vida do pedestre na cidade.

Em geral, foram identificados falta de calçadas, pavimentação inexistente ou mal conservada, ocupação de espaço da calçada por carros, expansão do comércios em direção à calçada, ausência de meio-fio rebaixado, falta de largura mínima suficiente, falta de sinalização podotátil, falta de mobiliário e paisagismo, sem manutenção quando existentes, depósito de lixo nas calçadas, dentre outros graves defeitos que levam ao desconforto.

A avaliação, limitada a alguns trechos da cidade, não esgota o elenco de problemas vividos cotidianamente pelo pedestre em Brasília nem nas outras cidades do Distrito Federal.

Se na área central, que é capital nacional, coração de uma das maiores áreas metropolitanas brasileiras e cidade tombada como patrimônio cultural da humanidade, há baixa atratividade das calçadas, o que se pode esperar dessa qualidade nas outras cidades que em geral não recebem os mesmos investimentos e cuidados por parte do poder público?

Dessa experiência ficam alguns alertas para governantes atuais e futuros e, principalmente, para os cidadãos e cidadãs que tem o privilégio - a dor e a alegria como diria Caetano Veloso - de viver nesta cidade.

O primeiro alerta é no sentido de que a qualidade do espaço público depende da qualidade dos espaços de circulação do pedestre e que essa é tão ou mais importante quanto a dos espaços privados e equipamentos de uso coletivo.

O segundo alerta é quanto à necessidade de se levar em conta o ambiente urbano como um todo, considerando o processo de individualização, esvaziamento e fuga em direção aos lugares fechados como shoppings centers e condomínios.

Nesses espaços a mobilidade urbana está centrada no uso dos carros e travada nos engarrafamentos. Assim, o sedentarismo e a obesidade atingem adultos e crianças e as ruas e calçadas de qualidade são essenciais para mudar os comportamentos e é vital para recuperarmos a saúde, a segurança, o espírito republicano e democrático da cidade humanizada.

A experiência nacional e internacional indica que boas calçadas - significa dizer, no mínimo, bem pavimentadas, iluminadas, seguras, largas, contínuas, confortáveis, agradáveis e conectadas aos edifícios - estimulam o saudável hábito da caminhada, convidam o cidadão a ser pedestre e a desfrutar da vida nos espaços abertos.

Não faltam parâmetros e padrões técnicos que servem de referência para a ação pública e privada na promoção dessa melhoria tão básica quanto urgente para nossas cidades.
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(*) Benny Schvasberg e Claudio Silva, membros da Diretoria da Associação Andar a Pé – O Movimento da Gente.
Artigo publicado originalmente no Correio Braziliense de 15/7/2017.

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