"A vida é de quem se atreve a viver".


Geniberto Paiva Campos: "Pela primeira vez consegui perceber que não há preocupação do ministro com a sua permanência no cargo, ou de gerar insatisfações no instável humor do seu chefe."
Habemus ministro

Geniberto Paiva Campos (*) –

Acompanhei, com um misto de espanto e satisfação, a fala do sr. ministro da Saúde, Marcelo Queiroga na CPI do Senado Federal sobre a Pandemia.

O ministro Queiroga foi submetido a um denso interrogatório, mas dentro dos limites do respeito, emitindo as suas opiniões de médico conceituado e presidente (licenciado) da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC). Eventualmente, ministro de um governo polêmico, cujo comandante-em-chefe parece ser portador de algum tipo de distúrbio mental, ou estar orientado por uma bússola que perdeu o prumo.

Trata-se do quarto ministro a ocupar a pasta da Saúde em dois anos meio da gestão Bolsonaro, enfrentando, Deus sabe como, o imenso desafio da Covid-19. É o segundo interrogatório – perdão, depoimento – ao qual o ministro é submetido, em curto espaço de tempo. Tendo, a todo instante, a sua fala interrompida pelo relator, quando este não obtinha a resposta desejada. E, também, interrompido, aos gritos, por um senador integrante da Comissão, o que provocou um educado protesto do ministro: - “V. Excelência não pode gritar comigo!” Talvez o incidente mais desagradável do seu depoimento.

Por que a minha surpresa, seguida de satisfação, com o depoimento do ministro Queiroga? É que, pela primeira vez, consegui perceber que não há preocupação, subjetiva ou manifesta, com a sua permanência no cargo, ou de gerar insatisfações no instável humor do seu chefe.

Ficou claro, bastante evidente até que algo mais relevante passou a ocupar o pensamento e as atitudes do ministro, mesmo correndo riscos eventuais, por ser partícipe de um governo de comando instável e imprevisível, inadequado a um desafio sanitário que está a exigir inteligência e aplicação de planejamento estratégico permanentes. Com mínimas – talvez nulas – possibilidades de cometer erros. E, sabidamente, uma ação coletiva.

O dr. Queiroga, agora falando mais como Médico (com maiúsculas) do que ministro, foi extremamente claro e explícito ao falar sobre temas controversos no âmbito do atual governo, principalmente quando o assunto é referente ao enfrentamento da Pandemia. Tal mudança tornou-se evidente na sua fala tranquila, hoje no Senado.

Do ponto de vista do ministro: 1) o uso da cloroquina não se justifica nos portadores de Covid-19, desde que “não existem evidências científicas” para esta indicação; 2) “o uso de máscaras” é de fundamental importância para evitar o contágio; 3) o mesmo vale para o ato de “lavar as mãos e o uso de álcool gel”; 4) “é preciso evitar aglomerações”; e, 5) finalmente, e não menos importante, “é a vacina que irá controlar a pandemia!

O dr. Queiroga faz a defesa destas ações sem alarde e sem arrogância. Com a humildade dos homens verdadeiramente sábios. E reconhece que exerce um cargo para o qual não foi eleito. E deixa claro que não está preocupado em punir os que cometeram erros. Ou controlar os arroubos presidenciais. Sua missão prioritária atual é fazer o enfrentamento eficiente da pandemia. Salvando vidas preciosas dos brasileiros. Sua sagrada missão como médico e eventual ministro da Saúde. Boa sorte, doutor! Que tenha êxito em sua difícil tarefa.
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(*) Geniberto Paiva Campos é médico cardiologista e integrante da CBJP/CNBB.

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