"A vida é de quem se atreve a viver".


A figura de Bolsonaro na TV era uma fake news viva, reencarnada. O Brasil dele não cabia naquela imagem de “vendedor de verdades inventadas”.
“Engole ele paletó” – Bozo virou fake-news

Luis Turiba (*) –

Meu pai Ico, redator do antigo Correio da Manhã e Jornal do Brasil nos anos 60, adorava cantar marchinhas de carnavais antigos.

Uma que jamais esqueci dizia assim: “Engole ele/ engole ele paletó/ engole ele paletó/ que o dono dele era maior” (ouça aqui). Era do David Nasser e J. Audi e foi sucesso no verão carioca de 1958.

Ao ver Bolsonaro ontem (22/4) na TV falando na Conferência do Clima, me lembrei dessa musiquinha.

A figura do nosso (ainda) presidente era uma fake news viva, reencarnada. Ele foi rediagramado num paletó cujo dono anterior (o defunto) era bem maior. Coisas do gabinete do ódio.

Quietinho, bem-comportado, lendo o texto assustado, parecendo não estar entendendo nada do que estava escrito, o cara dizia uma coisa e a imagem era outra. Algo ali não combinava, não havia verdade na cena. O coadjuvante não se encaixava no protagonista. O Brasil dele (sabemos qual) não cabia naquele que ele pretendia vender como “vendedor de verdades inventadas”.

De cara, na maior cara de pau, o cara tomou para si a Rio Eco-92 a primeira conferência mundial a tratar do clima na Terra, realizada no Rio de Janeiro, com a presença do comandante Fidel Castro, que na época deu um show de empatia e quase vira enredo da Mangueira no carnaval de 93.

Por falar em show, nosso fingidor está cada dia mais parecido com o personagem central do eterno conto O Alienista de Machado de Assis: todos em volta enlouquecidos e internados, menos ele, o dono da “verdade inventada. Acima de mim, só eu”.

O Brasil é um país em que cabe o sul, o som, o sol, o sal, o soul, o sim e até o céu – menos o Salles. Mas isso o presidente não sabe. E tome cloroquina e falsa vacina mineira.

Esse climão, a partir de hoje se globalizou. Educadamente, para não ouvir as tantas “verdades inventadas”, o presidente Joe Biden pediu para “ir ali e voltar já”, deixando o nosso poderoso com a broxa na mão sem escada em rede global.

Mais uma vez temos de apelar para Maria Bethânia, a que conhece as profundezas dos seres. Quando ela canta/recita seu poema-faísca de Iansã “Não mexe comigo que não ando só”, manda recado poderoso para quem sabe “pegar a visão”.

“Onde vai, valente? Você secou, seus olhos insones secaram. Não vem brotar a relva que cresce livre e verde, longe da tua cegueira. Seus ouvidos se fecharam à qualquer música, qualquer som. Nem o bem, nem o mal, pensam em ti, ninguém te escolhe.

Você pisa na terra mas não sente, apenas pisa. Apenas vaga sobre o planeta. E já nem ouve as teclas do teu piano. Você está tão mirrado que nem o diabo te ambiciona. Não tem alma, você é o oco do oco, do oco, do sem fim do mundo”.
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(*) Luis Turiba é poeta e articulista.

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