Geniberto Paiva Campos (*) –
“Os filósofos interpretam o mundo, mas o que importa é transformá-lo.” (Karl Marx)
Ainda estudante universitário, ouvi de um sacerdote/conferencista uma frase que até hoje me faz pensar: “Atrás de todas as ideias vêm os canhões”.
A força foi sempre reconhecida como um argumento poderoso para dar sustentação ao ideário humano. Dito de outro modo, não basta ter boas ideias, é preciso ter os exércitos para sustentá-las.
Curiosamente, nunca os homens – e suas organizações sociais – precisaram tanto dos seus filósofos e pensadores como nos últimos tempos. Contrariando a frase de Marx, um dos grandes pensadores de todos os tempos. O qual imaginava, para a transformar o novo mundo que se oferecia, haveria uma “luta de classes”, regida por um “determinismo histórico” a ser cumprido pela força do “proletariado”. Assim, estavam lançadas as bases do sistema Socialista, a antítese do Capitalismo.
A história contemporânea – ainda a mestra da vida, pois não? – nos mostra os sinais que ficaram dos sistemas criados pelos homens, para vivermos num mundo de “Liberdade, Igualdade e Fraternidade”, conforme postulavam os revolucionários franceses, desde 1789. Que derrubou a Bastilha e a monarquia gaulesa, movimento de 14 de julho, para sempre lembrado pela guilhotina e pelos brioches de sua majestade Maria Antonieta.
(Quase duzentos anos depois, em maio de 1968, os jovens franceses foram às ruas para proclamar ao mundo: é proibido proibir! e sejamos realistas, peçamos o impossível! Seus ídolos eram outros. Não mais Danton ou Robespierre, mas Daniel, le rouge... e suas propostas libertárias).
De fato, todos os sistemas e organizações políticas e sociais, até agora criadas pelos homens se revelaram falhas em sua concepção e na sua execução. Longe de se tornarem fórmulas definitivas, prontas e acabadas, que possam servir de exemplo. A conquista da Democracia plena, com liberdade, justiça social, busca da igualdade de oportunidades, distribuição equitativa de renda, torna-se um objetivo cada dia mais distante.
Na realidade, o processo político vem sofrendo ao longo do tempo sensíveis modificações que, gradativamente, vão descaracterizando a sua natureza, pela inserção de novos atores que podem ser chamados, para sermos gentis, de “informais”, mas que exercem, sem que precisem assumir plenamente o papel “político”, influência cada vez maior no seu processo decisório, prescindindo de eleições periódicas, onde a “soberana decisão popular” é exercida. Projetos e programas submetidos ao crivo dos eleitores. Característica essencial do processo democrático. E civilizatório.
A Democracia Representativa, exercida diretamente pelos cidadãos eleitores, vem esmaecendo gradativamente, na medida em que sofre, irreversivelmente, as terríveis agressões perpetradas através da judicialização da política; da politização do sistema judiciário, sob a égide e o comando da Mídia Corporativa (a qual se apropriou das redes sociais e através das Fake News, controla o processo decisório, por influência eletrônica), hoje componentes indissociáveis do jogo político, legítimos representantes da elite financeira, da qual constituem o seu longo braço e assim naturalizam a nova política...
Pessoas físicas, partidos políticos, organizações sociais e outras entidades e instituições que trabalham na construção de uma sociedade justa e democrática passam a sofrer todo tipo de perseguição e abusos, sempre covardes e cínicos. Que usam larga – e impunemente – a mentira e a trapaça como elementos naturais do fazer político. Um território (Estado) que passou a ter seus novos donatários, como se voltássemos ao tempo das capitanias hereditárias.
Fica a pergunta que não quer calar: Uma outra política é possível?
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(*) Geniberto Paiva Campos, do Instituto Sapiens