"A vida é de quem se atreve a viver".


Em 1956 JK deu início à obra dos eixos do Plano Piloto, registrada nessa foto histórica.
JK adotou Brasília, mas não é o único pai da criança

José Carlos Sigmaringa Seixas (*) –

Brasília completou 60 anos nesse 21 de abril de 2020. O grande homenageado pela construção da cidade planejada e futurista é o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira. JK, no entanto, não é o único ou o verdadeiro pai de Brasília. Pode-se dizer que ele foi um bom padrasto. Brasília já estava em gestação quando ele assumiu a paternidade e criou as condições para a nova cidade florescer.

A transferência da capital da República para o Planalto Central já estava sendo tratada pelo governo federal desde 1953, quando o presidente Getúlio Vargas instituiu e nomeou os integrantes da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, criada pelo Congresso Nacional.

Em 1955, essa comissão já tinha definido a localização exata de Brasília e estabelecido diversos outros planos de trabalho necessários à construção da cidade, como a implantação de rodovias, o plano de comunicação, e até a construção de uma hidroelétrica, nas cachoeiras do Rio Paranoá, para fornecer eletricidade para os canteiros de obras.

A comissão determinou ainda a construção de um acampamento para abrigar os técnicos que vieram ao local realizar os trabalhos de demarcação e implantação de marcos demarcatórios. Tudo isso já tinha sido definido pela comissão, em 1955, dirigida pelo Marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque, nomeado pelo presidente Café Filho. Todo esse trabalho está detalhado no relatório, de mais de 200 páginas, elaborado pela comissão, atendendo às determinações de três decretos presidenciais: decretos 32.976/53, 33.769/53 e 36.598/54.

JK tomou posse na presidência da República em 31 de janeiro de 1956. Isso significa que ele já pegou tudo mastigado para dar início efetivamente às obras. Portanto, a tese de que tudo teria começado em um comício em Jataí, durante a campanha presidencial de 1955, não procede. É uma fantasia.

Na versão dos juscelinistas, a construção de Brasília não estava em pauta. E que tudo começou quando um rapaz, o Toniquinho, perguntou a JK durante o comício se ele ia cumprir o art. 4º das disposições transitórias da Constituição de 1946, que determinava a construção de Brasília. E JK teria respondido: se está na Constituição, cumprirei.

Essa casualidade é contestada pelos historiadores. Na verdade, a equipe de marketing da campanha de JK combinou com Toniquinho o momento exato em que ele faria a pergunta. Foi nessa hora, segundo a lenda, que JK lançou-se como o construtor de Brasília.

JK tinha pleno conhecimento do dispositivo constitucional e, inclusive, como bom mineiro, quando deputado, defendeu que o local de construção da nova capital fosse o triângulo mineiro, ignorando o amplo e criterioso trabalho realizado pela Missão Cruls em 1892 - clique aqui.

Tudo isso está detalhado em documentos disponíveis na web. O principal é o relatório da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, de 1955 – leia o documento clicando aqui.

Outro documento interessante é a monografia de conclusão do curso de História, em 2011, do formando da UnB, Felipe Ribeiro de Farias Mendes da Silva. Ele relata justamente o trabalho do deputado federal Juscelino Kubitschek para tentar localizar a nova capital em terras mineiras – clique aqui para ler a monografia.

JK efetivamente foi o presidente que executou a construção de Brasília, mas ele apenas deu prosseguimento ao trabalho iniciado pelo Congresso brasileiro com o decisivo apoio dos presidentes Getúlio Vargas e Café Filho ao implementarem a Comissão de Localização da Nova Capital Federal criada pelo Parlamento.
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(*) José Carlos Sigmaringa Seixas é jornalista.
Com colaboração de Romário Schettino.
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