ACQ*
I – Anjos
Não se pode fiar em anjos
de candura e guarda em Brasília
Pensos em fios finos de aço
são feitos de prata e alumínio
como os rijos traços de sonho
da Capital – agora triste –
bem parida mas sequestrada
e criada sob relho em riste
II – Hic sunt dracones
Não são anjos – são dragões!
De suas cadeiras avançam
e esvoaçam sobre os Eixos
para predar a Esperança
que sepultam no campo dela
ou mudam em pó no paraíso
do Entorno – na vizinhança
de um esquálido Céu Azul
III – Da mesma matéria dos sonhos
Antes de velar Clóvis Sena,
suave poeta e repórter
eu soube que ao chegar
pelo Eixão Sul todos os postes
se curvaram cordialmente
para o acolher com a mala
& cuia & sonhos na cidade
de sua derradeira escala
IV – Venturis ventis 1
De sonhos se vive no DF
– Venturosos Ventos que Virão –
De Dom Bosco a fantasia
De JK a invenção
Desvarios do Lúcio Costa
Do Niemeyer delírios
Fábulas do Athos Bulcão
Devaneios leves do Anísio
V – Venturis ventis 2
E do Darcy doces quimeras –
Tantos sonhos – tontos sonhos –
mitos do País do Futuro
do Zweig, sonhoso dantanho
que impaciente com a chegada
de uma romântica Aurora
quis virar pedra em Petrópolis –
Variava com víboras veras
VI – Em se plantando… já!
Só quem deita no berço esplêndido
da Era de Ouro do passado
ou do Futuro Radiante
pode alucinar despertado
Vale mais semear agora
pra já colher miúdas graças
pois do futuro ninguém sabe
e o passado nos ameaça
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* Poema concebido em 2 de junho de 2018, reescrito em 19 de abril de 2020, e reeditado em 11 de outubro de 2020
Fundo musical - Marc Teicholz, violão, 05/02/2012, Chopin, Prelúdio Op. 28 nº 4 em Mi Menor (Sufoco)