"A vida é de quem se atreve a viver".


Nenhum partido tem uma militância como a do PT
O PT morreu?

Romário Schettino -

O resultado eleitoral de 2016 ainda será discutido, analisado, esquartejado por um bom tempo. No entanto, os mais apressados já encontraram uma unanimidade na avaliação: os grandes derrotados são Partido dos Trabalhadores (PT), Lula, Dilma e a ideia do golpe de Estado denunciado pelos mais diversos candidatos da esquerda.

A direita não só saiu vitoriosa como tem certeza de que os antigolpistas perderam espaço político irrecuperável.

Não apareceu ainda um coveiro para dizer que o PT morreu. Não ousaria avançar nesse prognóstico por cautela, mas a vontade dos "vitoriosos" é essa mesmo, acabar de vez com essa "raça".

O PT fincou raízes profundas no Brasil dos últimos 40 anos. Mudou a configuração política, o perfil de parlamentares, prefeitos, governadores; chegou à Presidência da República e ficou lá por 14 anos.

Isso não é pouca coisa para um partido fundado em 1980 por operários, intelectuais de esquerda, igrejas progressistas e que reuniu milhares de militantes em todo o país.

É o partido que abriu as portas para as minorias, os excluídos e mostrou para o mundo que é possível fazer diferente.

No entanto, perdeu as eleições municipais, onde supostamente teria respaldo por suas políticas de inclusão social.

Onde está o erro? Para Anselm Jappe, professor do Colégio Internacional de Filosofia, em Paris, em entrevista ao site Movimento Democrático 18 de Março, "a atual crise política no Brasil é um sintoma da impossibilidade de lutar contra o capitalismo com seus próprios meios".

A conciliação levada a cabo por Lula, por mais que beneficiasse os excluídos, não eliminou o germe da devastação e o resultado foi o golpe no governo Dilma Rousseff, que ameaça tudo o que foi construído nos últimos anos.

Jappe acha que PT "foi vítima de seu próprio jogo, traído por aliados que ele próprio levou ao poder e os instalou em lugares onde eles poderiam golpeá-lo".

Para o petista histórico Olívio Dutra, ex-governador gaúcho, "foi bom o PT levar uma lambada". Ele põe toda a culpa na direção do partido, que não ouviu as bases, nem tomou providências a tempo para definir os caminhos diante da avalanche que se aproximava.

Dutra tem razão, mas é preciso reconhecer que não se trata apenas de encontrar o culpado, ou culpados. É necessário considerar o oligopólio da mídia, associado ao contexto político, social e econômico em que vive o Brasil e a crise mundial.

Deve-se também levar em conta a óbvia partidarização do Judiciário, da Polícia Federal e do Ministério Público. A luta contra a corrupção, necessária, passou a ser uma atividade seletiva cujo único objetivo é destruir o PT.

Houve graves erros de condução na disputa entre os dois projetos, o da inclusão comandado pelo PT e o do retrocesso nas políticas sociais defendido pelo PSDB.

Os petistas foram às urnas sob o bombardeio da grande imprensa, da Operação Lava Jato e das prisões arbitrárias e seletivas, sem nenhum órgão de imprensa próprio para se defender perante a população. O governo do PT não fez a reforma política que poderia ter sido feita no auge da popularidade de Lula e acovardou-se diante da imprescindível regulamentação dos meios de comunicação. 

O partido caiu na vala comum das denúncias contra seus dirigentes e recebeu o carimbo do mais corrupto da historia, mas não morreu e dificilmente morrerá.

No entanto, só se reerguerá mediante profunda autocrítica, correção de rumos e ampla renovação de sua direção em todos os níveis, como querem seus dirigentes mais comprometidos com a luta democrática e popular. Lideranças petistas do Distrito Federal dizem que "o PT diminuiu na quantidade, mas é possível melhorar na qualidade, e muito".

Nessa tarefa de renovação estão os militantes do PT, historicamente aguerridos, corajosos e profundamente identificados com a estrela e o vermelho de sua bandeira.

Esses prefeitos e vereadores eleitos se trabalharem com os movimentos sociais organizados, dentro de uma Frente Ampla de Esquerda, poderão cumprir algum papel relevante em 2018, seja com Lula, Ciro Gomes, Roberto Requião, Haddad ou quem mais surgir.

É preciso esperar como serão as eleições em Belém, Fortaleza, Recife, Aracaju, Rio de Janeiro e São Luiz, onde a esquerda disputa o segundo turno.

Mas é preciso, sobretudo, lamber as feridas, superar as diferenças, esquecer o sectarismo e conquistar o eleitorado.

Você não tem direito de postar comentários

Destaques

Mais Artigos