Romário Schettino -
O espetáculo promovido hoje (14/9) pelo Ministério Público Federal, na figura do procurador Deltan Dallagnol (e seus coleguinhas da Força Tarefa da Lava Jato), expôs o Brasil de maneira ridícula perante o mundo.
A frase mais importante da “denúncia”, escondida convenientemente pelos meios de comunicação, é digna de quem se diz seguidor de Jesus Cristo (está no perfil de Dallagnol no Twitter), pois introduz no Direito a categoria da fé, em vez de provas.
“Não contem com provas, mas temos convicção (ou fé)” de que Lula era o comandante do esquema de corrupção na Petrobras e que cometeu os crimes lavagem de dinheiro, enriquecimento ilícito, ocultação de propriedades, corrupção ativa, passiva etc etc.
Ora, todos nós podemos ter fé em Deus, em Jesus Cristo, mas levar isso para o campo jurídico é inverter todos os princípios que nortearam a separação entre Estado e religião no Século XVIII.
Essa mistura de categorias jurídica e religiosa também lembra a inquisição, quando não interessavam as provas, bastava a vontade de condenar do inquisidor.
A propriedade de um tríplex no Guarujá, jamais comprovada, passou a ser uma questão de fé: “Eu estou convicto” de que aquele apartamento é dele (Lula).
Qualquer advogado em início de carreira sabe que não cabe a um procurador esse tipo de afirmação. Aliás, todo o discurso dos procuradores foi político. Aliás, isso foi denunciado pelo advogado de Lula. Os procuradores são militantes anti-PT e anti-Lula e manifestaram suas preferências politicas na internet.
O procurador Roberson Pozzobom abre sua fala admitindo que não “tinha provas cabais”, mas continuou proferindo todo tipo de impropério contra o ex-presidente da República. A controversa teoria do domínio do fato virou um mantra.
É muito curioso que essa patética exposição do MPF tenha sido feita com a ausência do juiz Sérgio Moro (ele está viajando aos EUA) e não tem prazo para se pronunciar sobre a s “denúncias”.
Outro fato curioso é que as “denúncias” falam em esquema do PT para comprar a base de sustentação do governo Lula, mas não mencionam o PMDB, o principal aliado de Lula e Dilma. Por que Michel Temer não quer falar sobre as denúncias? Teria ele o rabo preso?
O que está claro é que esse espetáculo midiático faz parte de um jogo para desgastar Lula e o PT durante as eleições municipais, mas pode surtir um efeito contrário, tamanho é o descalabro. Tudo vai depender da reação da militância do PT e de seus aliados.
Se o desgaste não for suficiente, pode o juiz Sérgio Moro acolher parte das denúncias e cozinhar essa novela por um bom tempo até inviabilizar a candidatura de Lula em 2018. Seja decretando sua prisão, seja desgastando sua imagem perante o eleitorado a ponto de Lula deixar de aparecer como favorito nas pesquisas de opinião.
É com isso que conta o PSDB de Dallagnol. Mas muita água ainda vai passar debaixo da ponte que liga os tucanos a Michel Temer.