"A vida é de quem se atreve a viver".


Campos e Bulhões, os neoliberais da ditadura militar
A classe média apoia um golpe que irá empobrecê-la

Marcos Doniseti (*) -

A classe média brasileira mais abastada apoiou, em grande parte, o Golpe de 64 contra o governo democrático de Jango, que era visto por ela como sendo “comunista e corrupto”.

Depois do golpe vitorioso, o governo Castello Branco (tendo Octávio Gouvêa de Bulhões e Roberto Campos no comando da economia) adotou uma política econômica neoliberal que a empobreceu rapidamente.

Tal política foi caracterizada por arrocho salarial, aumento de impostos, corte de gastos públicos, privatizações e desnacionalização da economia.

O resultado foi uma forte recessão econômica, que aumentou a concentração de renda, as desigualdades sociais, a pobreza e a miséria no país.

E esse processo atingiu em cheio, também, a classe média da época.

Qualquer semelhança entre a política econômica neoliberal de Bulhões/Campos com essa que Temer/Serra estão defendendo não é mera coincidência.

Daí, a classe média, sentindo-se traída pela ditadura militar, a cuja instalação ela apoiou entusiasticamente (inclusive na repressão que a mesma desencadeou contras as forças de esquerda) passou a apoiar as manifestações estudantis de 1968.

A ditadura militar ainda pôde contar com um cenário econômico mundial bastante favorável, naquele momento, no qual as maiores economias do mundo cresciam rapidamente (EUA, Alemanha, Japão, França etc), já que somente com o 'choque do petróleo', de outubro de 1973, é que a crise atingiu ao Brasil com força.

No período 1968-1973, o mundo viveu um período de bonança econômica e que a Ditadura Militar, no governo Costa e Silva, e já com Delfim Netto comandando a economia do país, tirou proveito, atraindo muito dinheiro estrangeiro para o país, aproveitando-se do excesso de capital.

E tal capital estrangeiro se beneficiou, também, com a política de arrocho salarial adotada a partir do governo Castello Branco (1964-1967), que barateou significativamente o custo da força de trabalho brasileira.

A oferta abundante de crédito externo e interno, bem como os incentivos fiscais e os estímulos para as exportações que foram dados pela ditadura militar, completaram o pacote econômico que gerou o chamado "milagre brasileiro" (1968-1973).

A censura à imprensa foi total durante muitos anos no Brasil. E a tortura foi institucionalizada, sendo empregada em larga escala contra dezenas de milhares de pessoas.

Neste período do 'milagre brasileiro', o país cresceu muito, sim, mas também tivemos um forte aumento da concentração de renda e das desigualdades sociais, visto que a política econômica visava beneficiar, no máximo, 30% da população.

A classe trabalhadora, naquele momento, foi imensamente prejudicada, tendo sido fortemente explorada pelo grande capital nacional e internacional, que foram os maiores beneficiados por tal modelo econômico.

Mas o 'choque do petróleo' e a recessão econômica mundial que se seguiu ao mesmo acabou por inviabilizar a continuidade do tal 'milagre' e o rápido aumento da inflação, a partir de 1974, corroeram as bases desse crescimento, que decaiu bastante a partir deste ano.

E como os salários não acompanhavam a inflação, que aumentava a cada ano (chegando a 220% ao ano no último ano da ditadura militar, que foi 1984), tivemos um grande aumento da pobreza e da miséria no Brasil entre 1974-1984.

E a crescente insatisfação popular com tal cenário econômico ruim acabou desembocando em vários movimentos expressivos, como os da carestia, da anistia e, finalmente, o das diretas-já.

E agora, em 2015-2016, essa mesma classe média mais endinheirada sai às ruas do país exigindo a queda da presidenta Dilma (contra a qual não há nenhuma acusação ou denúncia formal) e faz isso usando um discurso semelhante ao de 1964, voltado para os temas do combate à 'corrupção e ao comunismo', embora o primeiro tema seja muito mais explorado, por ser mais popular neste momento.

E o plano econômico que um eventual governo pós-golpe, comandado pelo PSDB-PMDB, irá adotar também será fortemente neoliberal, possuindo características semelhantes, em tudo, ao que a dupla Bulhões-Campos implementou em 1964-1967 e que empobreceu bastante os trabalhadores assalariados e a classe média.

A diferença é que, agora, o cenário econômico mundial é horroroso. O comércio internacional estagnou e as maiores economias mundiais crescem pouco (caso da UE, Japão etc) ou estão desacelerando (EUA, China) ou ainda estão em recessão (caso da América Latina).

Logo, não há um cenário econômico mundial que possa, por exemplo, colaborar no processo de retomada do crescimento econômico, por mais estímulos que o grande capital venha a oferecer a um eventual governo liderado pela aliança entre PMDB-PSDB.

Tal plano irá empobrecer os trabalhadores assalariados e a classe média, a mesma que, agora, sai às ruas apoiando o golpe de estado contra Dilma.

Daqui a alguns anos esta mesma classe média estará protestando contra aqueles que a empobreceram.

É tudo tão previsível...
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(*) Esse artigo do Marcos Doniseti foi publicado originalmente no blog Guerrilheiro do Anoitecer:
http://guerrilheirodoanoitecer.blogspot.com.br/2016/03/a-classe-media-apoia-um-golpe-de-estado.html

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