"A vida é de quem se atreve a viver".


“A celebração da individualidade autônoma nos impede de colocar em primeiro plano o que temos em comum e, assim, nos organizar politicamente”
“Multidões e partido” – como repensar o sujeito coletivo

Como agrupamentos de pessoas viram movimentos organizados? Rejeitando a ênfase em indivíduos e multiplicidades, Multidões e partido, de Jodi Dean, reitera a necessidade de repensar o sujeito coletivo da política e demonstra a importância de ver o partido enquanto organização capaz de revigorar a prática política.

Partindo de exemplos como o Occupy Wall Street, Jodi Dean destaca uma contradição interna desses movimentos: o individualismo de correntes ideológicas democráticas, anarquistas e horizontalistas acaba por minar o poder coletivo que de início se almejava.

Citando outros acontecimentos da mesma época, a autora argumenta que discussões anteriores deixaram de considerar as dimensões afetivas da forma partido, bem como a maneira pela qual esta viabiliza a formação de vínculos entre as pessoas: “A celebração da individualidade autônoma nos impede de colocar em primeiro plano o que temos em comum e, assim, nos organizar politicamente”, argumenta.

Ensaio sintético com recorte e análise bastante originais, reabilita tradição e prática comunistas clássicas sem apelo a tradicionalismo ou nostalgia, mobilizando linguagem, abordagem e arcabouço teórico ancorados na atualidade política e na filosofia e teoria social contemporâneas: “Recorro a Robert Michels e Jacques Lacan para pensar os afetos que o partido gera e os processos inconscientes que ele mobiliza […]. A função do partido é manter aberta uma lacuna em nosso ambiente, a fim de possibilitar um desejo coletivo por coletividade”, diz.

Jodi Dean é professora de teoria política, feminista e de mídia em Nova York, onde também está engajada em trabalho político de base. Criada no Mississippi e no Alabama, ela se formou na Universidade Princeton e obteve seus títulos de mestrado e PhD na Universidade Columbia. Seus livros abordam temas como solidariedade, condições de possibilidade para a democracia, capitalismo comunicativo e necessidade de construir uma política que tenha o comunismo como horizonte. Pela Boitempo publicou Camarada: um ensaio sobre pertencimento político (2021).

Trecho

“A leitura democrática da multidão tem o benefício de revelar uma divisão: turba ou povo. A multidão força a possibilidade da intrusão do povo na política. Se afinal o povo é ou não sujeito de um acontecimento de multidão, isso é algo em disputa. A multidão instaura um campo no interior do qual será travada uma luta para definir seu sujeito. Uma multidão pode ter sido simplesmente uma turba, nem sequer um acontecimento. Pode ter sido uma reunião previsível e legítima – mais uma vez, não um acontecimento, e sim uma afirmação da configuração vigente. E pode realmente ter sido um fenômeno no qual o povo se levantou em busca de justiça. O que define qual dessas alternativas determinado acontecimento de multidão será, ou melhor, terá sido, é o desdobramento do próprio processo político que ele ativa”.
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Ficha técnica
Título: Multidões e partido
Título original: Crowds and Party
Autor: Jodi Dean
Tradução: Artur Renzo
Disponível nas livrarias a partir de 21 de outubro de 2022

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